segunda-feira, 1 de junho de 2009

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Poesia Matemática - Millôr Fernandes

Imagem: Rude Rucker - achei a imagem e curiosidade: o pintor é matemático!!! Descobri AQUI

E já que maio é findo, junho pede urgência! Urgência de tantas coisas! Se maio eu considerei um mês romântico e feminino, junho é o mês dos namorados. Mas isso é história para um outro post.

Mas pegando carona no tema do namoro e considerando que chegaram tantas pessoas aqui, no Sopros, buscando a Poesia Matemática do Millôr Fernandes, vou deixá-la para que possam conferir esse poema interessante. Pareço inspirada para posts, blogs e coisas do gênero?


Poesia Matemática - Millôr Fernandes


Às folhas tantas do livro matemático

um Quociente apaixonou-se um dia doidamente

por uma Incógnita.

Olhou-a com seu olhar inumerável e viu-a do ápice à base

uma figura ímpar;

olhos rombóides, boca trapezóide, corpo retangular, seios esferóides.

Fez de sua uma vida paralela à dela

até que se encontraram no infinito.

"Quem és tu?", indagou ele em ânsia radical.

"Sou a soma do quadrado dos catetos.

Mas pode me chamar de Hipotenusa."

E de falarem descobriram que eram

(o que em aritmética corresponde a almas irmãs)

primos entre si.

E assim se amaram

ao quadrado da velocidade da luz

numa sexta potenciação traçando ao sabor do momento

e da paixão

retas, curvas, círculos e linhas sinoidais

nos jardins da quarta dimensão.

Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidiana

e os exegetas do Universo Finito.

Romperam convenções newtonianas e pitagóricas. E enfim resolveram se casar

constituir um lar, mais que um lar, um perpendicular.

Convidaram para padrinhoso Poliedro e a Bissetriz.

E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro

sonhando com uma felicidade integral e diferencial.

E se casaram e tiveram uma secante e três cones

muito engraçadinhos.

E foram felizes até aquele dia em que tudo vira afinal monotonia.

Foi então que surgiu O Máximo Divisor Comum

freqüentador de círculos concêntricos, viciosos.

Ofereceu-lhe, a ela,

uma grandeza absoluta

e reduziu-a a um denominador comum.

Ele, Quociente, percebeu que com ela não formava mais um todo,

uma unidade.

Era o triângulo, tanto chamado amoroso.

Desse problema ela era uma fração, a mais ordinária.

Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade

e tudo que era espúrio passou a ser moralidade

como aliás em qualquer sociedade.


***