Não lembro o dia, mas estava pensando em carnaval. É assim, não sei o dia, não sei o porquê, nem o que pensei, mas imediatamente lembrei-me da história doPierrô, Colombina e Arlequim e da marchinha de carnaval, do Noel Rosa (um Pierrô apaixonado, que vivia só cantando, por causa de uma Colombina, acabou chorando, acabou chorando...um grande amor tem sempre um triste fim... – será? Que chato isso!). Bem, voltando o barco para o objetivo inicial [escrevendo aqui e tentando não ser prolixa, pois esse tema me deu vários insights], pois caso contrário isso não poderá ser um único post.Ao lembrar-me desses personagens, primeiro na música, pensei em ir buscar a origem da história no teatro, pois já havia lido e não lembrava. Esses personagens fazem parte de um estilo teatral nascido na Itália no século XV e difundido depois na França, chamado Commedia dell’Arte. Foi um forma de teatro popular improvisado, que se opunha à Comédia Erudita – em latim e pouco acessível - e também foi conhecida como Commedia All’improviso. As apresentações ocorriam em praças e ruas, em pequenos palcos improvisados ou em carroças. Em geral as companhias teatrais eram familiares e itinerantes, seguiam apenas um roteiro, chamado canovacci, mas os atores tinham liberdade de criação. Os personagens eram fixos e muitos atores representavam o mesmo papel até a sua morte.
O centro da trama dos três personagens é um triângulo amoroso e uma sátira social:Pierrô ama Colombina, que ama Arlequim, que, por sua vez, também deseja Colombina. A história do trio enamorado era um entretenimento popular, de origem influenciada pelas brincadeiras de Carnaval. Além dos três, havia um comerciante avarento (Pantaleão), um intelectual pomposo (Doutor) e um oficial covarde, mas “disfarçado” de valentão (Capitão), entre outros.
Em relação aos personagens centrais: Pierrot foi o nome que Pedrolino ganhou na França no século XIX, era o mais pobre dos personagens, com rosto pintado de branco e sem máscara. Inspirou a fantasia dos palhaços, pois era o que mais sofria com brincadeiras, por conta de seu amor pela Colombina, era um servo de Pantaleão. Assim também o era Arlequim, um espertalhão preguiçoso e insolente, que queria se passar por ingênuo e estúpido, fazia passos acrobáticos pelo palco e debochava pregando peças nos outros personagens, e tentando escapar com agilidade das confusões que criadas por ele. Sua vestimenta de losangos completava a caracterização. Colombina era a criada de uma filha de Pantaleão, tão bela e refinada quanto sua ama. Para despertar o amor de Arlequim, cantava canções românticas e dançava nos espetáculos. O sofrimento do Pierrô inspirou muitos versos, como a divertida marchinha do Noel Rosa (vá tomar sorvete com o Arlequim)...
Depois de toda essa leitura e escrita, ainda senti vontade de escrever uma história diferente para a Colombina...E escrevi os versos abaixo:
Colombina sentiu a dor
Que não queria,
Na noite anterior,
havia encontrado seu Pierrô na avenida,
E disse a ele, que quando dançava, dançava para ele,
Que quando cantava, cantava por ele,
Que seus suspiros eram de saudade dele...
e pela impossibilidade de tê-lo ao seu lado.
Nada do quê Arlequim quisesse fazer parecer mudaria,
seus sentimentos profundos
Por ele, Pierrô...
Suas lágrimas, sua tristeza, sua alegria
Sua esperança era ele, por ele,
mas nessa noite
ao procurá-lo na avenida
só viu seu rosto branco
beijando uma boca vermelha
que não era a sua
***
Um pierrô apaixonado
Que vivia só cantando
Por causa de uma colombina
Acabou chorando, acabou chorando
A colombina entrou num butiquim
Bebeu, bebeu, saiu assim, assim
Dizendo: pierrô cacete
Vai tomar sorvete com o arlequim
Um grande amor tem sempre um triste fim
Com o pierrô aconteceu assim
Levando esse grande chute