Buscava o equilíbrio, toda sua energia era despendida com o intuito de equilibrar-se vida à fora.
Tinha descoberto muito tempo atrás que sua tarefa não seria das mais fáceis. Vivia se desprendendo, se despregando do rumo, afinal havia uma gama imensa de facilidades para perder o rumo, ultrapassar a linha tênue da lucidez.
Tinha descoberto muito tempo atrás que sua tarefa não seria das mais fáceis. Vivia se desprendendo, se despregando do rumo, afinal havia uma gama imensa de facilidades para perder o rumo, ultrapassar a linha tênue da lucidez.
Longe de desistir, alternava momentos de doce harmonia com tudo e todos ao redor, e outros em que a solidão lhe era a melhor companhia. Certo que muitas vezes lhe doía a alma, com sua tristeza ancestral, pois isso tinha vindo no seu sangue e não havia libertação possível. E nesses momentos era como se essa alma lhe dissesse: Quanta estupidez, quem pensa que é para imaginar que pode viver sem mim?
Passava por esses momentos como se fosse uma provação, que necessitava passar. Mas era forte e teimosa, absorvia a dor, conversava com a alma e lhe dizia que sim, compreendia a importância dela em sua existência, mas não esmoreceria, não perderia a lucidez.
No seu íntimo sabia: além daqueles dias de solidão e dor, haveria dias de contemplação do belo, em forma de poesia, de música, de cores, de amor...o amor, tão i(nt)menso que transbordava dela para a humanidade e talvez por isso aqueles momentos de pouca lucidez. Amava e continuaria amando. Contraditoriamente, esse era também, o seu ponto de equilíbrio. Não havia força que lhe tirasse do prumo, ia buscando os momentos de felicidade, onde menos podia imaginar que existissem. E seguia e andava na linha do trem, na corda bamba, balançando e retornando ao eixo. Pois que, queria era vida e a vida permitia tudo, até flertar com a loucura...
***
...Será preciso coragem para dizer o que vou fazer: dizer. E me arriscar à enorme surpresa que sentirei com a pobreza da coisa dita. Mal a direi, e terei que acrescentar: não é isso, não é isso! Mas é preciso também não ter medo do ridículo, eu sempre preferi o menos ao mais por medo também do ridículo: é que há também o dilaceramento do pudor. Adio a hora de me falar. Por medo?... (trecho do livro Paixão segundo G.H. - Clarice Lispector)