domingo, 21 de fevereiro de 2010

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Tempestade

Peguei na internet


De repente o céu tornou-se cinza. A rapidez como aconteceu lhe deixou perplexa e, um sentimento estranho também se insinuou dentro dela. Abriu a janela do apartamento para sentir o vento forte e olhar os blocos de chumbo que se formaram no céu. Pareciam sólidos. Debruçou-se no parapeito da janela e começou a observar a sutil movimentação que se seguiu ao escurecimento da tarde.

Nos apartamentos dos prédios ao redor do dela, um rapaz que segurava uma caneca, e também olhava o céu, abriu a janela para sentir o vento; na varanda uma mulher fechou a porta para impedir que vento e chuva invadissem a sala; a moça do andar de baixo pressentiu sua presença e esticou a cabeça para fora e para cima; uma cortina tremia lá longe, como uma bandeira. E os poucos carros que estavam na cidade naquele derradeiro fim de semana de verão transitavam apressados.

Naquela tarde de domingo nem o cheiro de bolo assando - em algum lugar ali perto – lhe fez sentir-se feliz. Os grossos pingos de chuva começaram a cair das nuvens de chumbo acima da sua cabeça e ela deixou-se ficar na varanda sentindo o rosto molhar. Queria mesmo que aquela água lavasse sua alma e seus pensamentos, gostaria que a força demonstrada por essa tempestade pudesse romper o ciclo de melancolia que novamente se instalava nela. O corpo tremia de pensar que tudo se repetia de forma insistente: o encontro, a paixão, um novo querer, o apego, o cuidado, o carinho e o abandono. Sem novidades no seu destino, se apegava a delicadeza de instantes como aquele, quando a natureza mobilizava muitos aparentemente-diferentes para admirar sua força. Todos se encontraram em suas janelas para sentir o vento na tarde quente de domingo, e todos puderam perceber certa solidão uns nos outros. E se esse mesmo vento pudesse mais tarde trazer más notícias, naquele momento ela se sentiu acalentada e acompanhada por outros tantos seres que podiam estar aguardando um acontecimento como aquele para levantar e o olhar para fora do seu pequeno mundo.

Inconscientemente parou de sofrer, suas roupas já estavam molhadas e se chorou realmente não percebeu, mas sentiu que estava leve. Resolveu que os sentimentos pessimistas que sentia até a pouco seriam levados pela água, escorreriam pelos ralos, para que pudesse iniciar o ano com vontade de viver novas emoções, sem medo do que pudesse vir no futuro, sem desacreditar que pudesse amar de novo e ser feliz com esse amor. Lembrou do cheiro do bolo. Respirou fundo e foi como se sentisse o sabor de bolo quente na boca.
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