segunda-feira, 20 de abril de 2009

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Percorrendo caminhos e estações

Boreas - John William Waterhouse - 1903



As estações do ano lhe traziam diferentes sensações. No inverno buscava o fogo que aquecesse sua alma. No verão, tudo que mais desejava era uma brisa que abrandasse o calor e aquietasse seu coração. E a cada vontade ou desejo, o corpo ia respondendo igualmente aos seus anseios.

Nos primeiros dias outonais, tentava imaginar alegrias e prazeres, mas a melancolia apoderava-se dela e aprisionava seus pensamentos. Exercitava visualizar dias felizes, passados nas estações anteriores para conservar um “melhor-do-bom” que havia sentido. Imagens povoavam sua mente, sons e vozes dissipavam a dor e transformavam as recordações em sentimentos inexplicáveis, subterfúgio para o amor, invenções para a vida.

Buscava atalhos ou percorria longos caminhos para fugir do sofrimento. Sentia vontades, vontades de viver emoções inusitadas, ansiava por um carinho que nem sabia qual era, mas que não se comparava com o que já havia vivenciado.

As estações mudavam e as lembranças iam se diluindo, como se outra pessoa tivesse vivido aquelas lembranças. Na transição, acordava como de um idílio e repensava a vida para se reinventar uma vez mais.

Num dia, dobrou a esquina, olhou para o céu e viu uma nesga de lua, crescendo. Encarou a longa e larga rua, pisou firme, lá adiante poderia ter mais um atalho.
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domingo, 5 de abril de 2009

domingo, 5 de abril de 2009

Aromas e sentimentos

[Memory of that house (2001) - Iman Maleki - pintor realista iraniano - vale muito conhecer suas obras - Aqui ]


Sozinha, vinham no seu sentir, uns aromas que lhe remetiam ao lugar onde queria estar. Talvez no passado, que nunca existiu. Ou num futuro, que jamais aconteceria.

Um aperto no peito lhe enchia de tristeza e respirava mais fundo, no intuito de que o cheiro lhe transportasse ou que esquecesse os sonhos que não se tornariam realidade.

Insistia num viver morno, mesmo querendo fogo ardente. Mas sempre compunha a vida com equívocos e por isso talvez fosse difícil imaginar um abrigo que acalmasse o coração.

Sorria tristemente por esses pensamentos e rápido imaginava outro sentir, que afastasse o aroma que lhe deixava tão sensível.
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quarta-feira, 1 de abril de 2009

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Delírios

Singing Fish - Miró



[Definitivamente devo andar delirando. Sem muito que escrever no blog, escrevo delírios. Perdoe-me quem ler as bobagens]


No principio um azul, de verdade não era uma cor.
Deslizando o pincel se tornou um cinza. Não confundir com dor!
Piruetas e estilhaços - se formou um marrom e bebida não inventou.
De repente, bum! Uma infinidade de tonalidades de encarnado, só que não sangrou.
O amarelo se insinuou com um pinto quebrando o ovo e não emitiu sequer um som.
Quem lambuzou o verde? Mas nem germinou!!
Para onde vai me levar o delírio, ainda não descobri. É uma infinidade de possibilidades no que sinto. Agora simplesmente não quero cor. Quero o calor para me representar! E um pouco de som. E minha viagem se completando fora de órbita. Sequência? Que sequência? Não há sequência. Eu quero correr e se gritar não há porque se espantar.
A cor se mantém, quero cantar. E porque não... pintar?
Os estilhaços do marrom arrebentaram o vermelho, jorrou sangue, que tingiu o cinza e se espalhou como gema. Socorreu o azul evitando a hemorragia definitiva. Soprou um vento e sacudiu o verde.
O coração - cansado - se quietou e gelou.
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