segunda-feira, 29 de setembro de 2008

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

José Régio - Cântico Negro

(Título opcional: Minha alma nômade - pois ela quis assim)

Monet - Jeanne Marguerite Lecadre in the Garden

A ausência não me trouxe palavras suficientes para escrever, mas me colocou nas mãos um poema que me arrebatou. Ele "se escolheu" para me dar voz, me doar imagens e sensações. Tenho tido essa impressão: a de que não seleciono, eles - os textos, os poemas - se antepõem ao meu raciocínio para virem ser soprados por aqui. Bobagem sim, mas é bom acreditar, pois então creio eu.

***

Sopro de José Régio

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

(Cântico Negro)

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quarta-feira, 24 de setembro de 2008

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Frio primaveril


Não sabia exatamente quem havia lhe enganado,
Se o inverno que anunciou sua partida
Ou a primavera que prenunciou sua chegada
Os jacarandás enfeitaram-se multicoloridos e exalaram seu perfume
Os pássaros surgiram apresentando seu canto, sua sedução,
e a disposição em disseminar mais cores.
Os olhos dela embeberam-se com verde, amarelo e lilás,
Seu corpo se preparou para o sopro tépido
E sentiu um aconchego antecipado.
Havia esgotado o prazer dos vinhos e dos lugares fechados,
Ansiava pela vida, livre das quatro paredes.
Foi dormir com a grata sensação que o sol iria brilhar com maior freqüência.
Acordou, abriu a janela, um vento gelado queimou-lhe o rosto,
Os pássaros quietaram e só sobraram as teimosas flores dos jacarandás.
Acolheu nela as dores de todos os sujeitos traídos pelo falso anúncio
e, esgotada do inverno, que insistia em retornar,
fechou a janela, vedou as frestas impedindo o frio de se instalar no coração.
Como de hábito, empilhou uma sobre a outra - junto com as cobertas - as expectativas, aguardando o novo florescer.


***

Sopro de Ben Harper - Morning Yearning

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terça-feira, 23 de setembro de 2008

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Caminhos (e sensações) da Índia



Hoje fui procurar um presente especial. Difícil encontrar presentes para quem tem praticamente tudo, falando de coisas materiais e de presentes viáveis financeiramente. De qualquer forma meu alvo inevitável foi uma livraria e nela os livros de culinária.

Encontrei um - que faz parte de uma coleção intitulada Cozinha das Sete Famílias - sobre a culinária indiana. Uma poesia de texto e imagens. Encantei-me! Antes de entregar o presente vou furtar - como quem furta rosas do jardim alheio - um pouco do conteúdo para postar aqui. Furtar duas vezes, do aniversariante e da família indiana, que no livro responde umas perguntinhas. Selecionei as respostas, de cada um, que mais se adequavam ao meu momento. É ficou assim:

Se eu fosse... uma cor,
eu seria o vermelho das pimentas, bem brilhante, uma prova de sabor e de força!
Se eu fosse... um cheiro,
eu seria o do garam masala, salpicado sobre os pratos no exato momento de servi-los. Incomparável.

Se eu fosse... um sabor,
eu seria o sabor quente da canela quando está em infusão.

Se eu fosse... um utensílio,
eu seria a folha da bananeira! Um papillote natural e com um perfume único.

Se eu fosse... uma lembrança gustativa,
eu seria a primeira vez que eu senti o cheiro da baunilha...
Eu perguntei à mamãe se eu podia comer a vagem!

Se eu fosse... um pecadinho,
eu seria uma manga! Supersuculenta, quase madura demais, para dar uma dentada e sentir o suco que escorre na boca.

***

Foi ler as respostas e viajar...um mundo de lembranças assalta a memória...

Não satisfeita, fui buscar uma poesia de um autor indiano que me completasse a estranha sensação... Sintam o sopro de Rabindranath Tagore, nascido em Calcutá (1861) e falecido em Bengala (1941). Ouçam o belo sopro da voz de Ná Ozzeti, que se não tem complemento com o texto, causou-me uma boa sensação ao ouvir.

***
Sopro de Rabindranath Tagore

No dia em que a Flor de Lótus desabrochou

A minha mente vagava, e eu não a percebi.

Minha cesta estava vazia e a flor ficou esquecida.

Somente agora e novamente, uma tristeza caiu sobre mim.

Acordei do meu sonho sentindo o doce rastro

De um perfume no vento sul.

Essa vaga doçura fez o meu coração doer de saudade.

Pareceu-me ser o sopro ardente no verão, procurando completar-se.

Eu não sabia então que a flor estava tão perto de mim

Que ela era minha, e que essa perfeita doçura

Tinha desabrochado no fundo do meu coração.

(Flor de Lótus)


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domingo, 21 de setembro de 2008

domingo, 21 de setembro de 2008

Lya Luft - Secreta Mirada


Como digo sempre: se não sei "escrever", recorro a quem sabe!
Sopro de Lya Luft



Foram os amores que tive


ou me tiveram


partiram


num cortejo silencoso e iluminado


O tempo me ensinou


a não acreditar demais na morte


nem desistir da vida: cultivo


alegrias num jardim


onde estamos eu, os sonhos idos,


os velhos amores e seus segredos.


E a esperança - que rebrilha


como pedrinhas de cor entre as raízes.


(Secreta Mirada - 1997)



***

Uma semana iluminada!
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sábado, 20 de setembro de 2008

sábado, 20 de setembro de 2008

Sábado...Clarice...Tango

Sábado passado a Neiva deixou um sopro de Clarice. Como o post já estava pronto não coloquei aqui, mas sempre podemos contar com um sábado após uma semana intensa, vamos ao sábado e um trecho de Clarice.
***
Atenção ao sábado
Acho que sábado é a rosa da semana; sábado de tarde a casa é feita de cortinas ao vento, e alguém despeja um balde de água no terraço: sábado ao vento é a rosa da semana; sábado de manhã a abelha do quintal, e o vento: uma picada, o rosto inchado, sangue e mel, aguilhão em mim perdido: outras abelhas farejarão e no outro sábado de manhã vou ver se o quintal vai estar cheio de abelhas. Foi num sábado que vi um homem sentado na sombra da calçada comendo uma cuia de carne-seca e pirão; nós tínhamos tomado banho. De tarde a campainha inaugurava ao vento a matinê de cinema: ao vento sábado era a nossa rosa da semana...
Tem sido sábado, mas já não me perguntam mais...(C.L.)

***
E em sendo sábado podemos falar um tantinho de música. De Tango. “O Tango surgiu no fim do século XIX, uma mistura das formas musicais dos imigrantes italianos e espanhóis, dos crioulos descendentes de espanhóis que viviam nos pampas e do batuque de negros chamado Candombe”. Dizem ser uma expressão folclórica das populações pobres, dos subúrbios de Buenos Aires. Alguma semelhança com o Chorinho?
Em público, dançavam homens com homens, pois a dança era considerada obscena entre homens e mulheres abraçados, por isso o tango se manteve restrito aos bordéis e os homens empregavam os passos praticados e criados entre si nas horas de lazer em família. Um grande nome do Tango? Carlos Gardel. E na década de 50 Astor Piazzola revolucionou o tango, usando recursos clássicos de Bach e Stravinsky.

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Sopros de Piazzola





“Es (el tango) un pensamiento triste que se baila” (Enrique Santos Discépolo)






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quinta-feira, 18 de setembro de 2008

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Pedacinho do Céu – Chorinho de Waldir Azevedo

Um dia desses estava com a televisão ligada, algum telejornal estava no ar e uma matéria qualquer estava se desenrolando ao som de um chorinho.

Eu adoro chorinho! A minha primeira lembrança de um choro é Odeon, de Ernesto Nazareth – pelo que li uma sofisticação no chorinho, pois ele misturava o popular e erudito, sendo que sua obra só foi admitida como tal nas décadas de 40 e 50.



Quando ouvi, gostei muito e então entendi que gostava de chorinho. A partir dele fui conhecendo os outros. Não encontrei uma boa versão de Odeon para colocar aqui, mas achei Pedacinho do céu de Waldir Azevedo, que está tocando no blog.

O choro surgiu em meados do século XIX como resultado de uma mistura de elementos das danças de salão européias com influência de música africana, mas foi no início do século XX que ganhou maior consistência. Joaquim Antonio da Silva Callado, Chiquinha Gonzaga, Anacleto de Medeiros, Pixinguinha - com seu famoso Carinhoso – Altamiro Carrilho, são nomes históricos do chorinho.


Tem mais história AQUI



***


Sopros de cavaquinhos, violões, flautas... (ou a imaginação...)



Agradecimentos especiais a Lu do Voz Ativa pelos selos e pelo carinho



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quarta-feira, 17 de setembro de 2008

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Compreensão súbita, incompreensão aguda - Paixão segundo GH


Sempre que leio um trecho de A Paixão segundo G.H. eu me remeto a um momento importante da minha vida. Talvez uma compreensão súbita e incompreensão aguda. O título do post foi somente uma referência a um trecho do livro.

***

Sopro de Clarice

...


Não. Toda compreensão súbita é finalmente a revelação de uma aguda incompreensão. Todo momento de achar é perder-se a si próprio. Talvez me tenha acontecido uma compreensão tão total quanto uma ignorância, e dela eu venha a sair intocada e inocente como antes. Qualquer entender meu nunca estará à altura dessa compreensão, pois viver é somente a altura a que posso chegar – meu único nível é viver. Só que agora, agora sei de um segredo. Que já estou esquecendo, ah sinto que já estou esquecendo...


Para sabê-lo de novo, precisaria remorrer. E saber será talvez o assassinato de minha alma humana. E não quero, não quero. O que ainda poderia me salvar seria uma entrega à nova ignorância, isso seria possível.

...

(A Paixão Segundo G.H. - Clarice Lispector)

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terça-feira, 16 de setembro de 2008

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Ensaio sobre a cegueira - o filme, o livro

Sempre, ou quase sempre, que um livro é adaptado para o cinema há diversas reclamações sobre o conteúdo do filme. Eu não tenho muitas "queixas", compreendo simplesmente que é impossível realizar uma abordagem literal e completa de um livro para o cinema. Tenho certa tendência a absolver os cineastas dos filmes pelos quais me interesso. Na verdade vou generalizar, se algo me tocou, me emocionou já me deixa uma marca, gosto e ponto. Ouço as críticas, respeito quem não gostou, quem não se emocionou e sigo com minha opinião. É mais fácil eu vir a gostar de algo que não gostava por influência de terceiros que deixar de gostar. Será que deu para entender? Enfim, não sei se isso é bom ou ruim, certa ou errada sigo assim, pelo menos por enquanto. Quem sou eu para dizer que nunca vou mudar! Como eu disse ainda ontem, sou quase uma nômade de casa e alma. Em relação a filmes eu nunca leio a crítica antes, mas depois posso verificar se minhas impressões vão ao encontro da “dos especialistas”.

Não li o livro Ensaio sobre a cegueira, do escritor português José Saramago, então não posso traçar paralelo algum com o filme, que fui assistir e me causou grande impacto. A mensagem implícita é fortíssima. O filme foi bastante criticado no Festival de Cannes e o diretor Fernando Meirelles teria realizado diversas modificações para a exibição comercial, após as críticas negativas.

Sobre o livro, José Saramago disse: "Este é um livro francamente terrível com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. Nele se descreve uma longa tortura. É um livro brutal e violento e é simultaneamente uma das experiências mais dolorosas da minha vida. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso". É muito provável que eu o leia.

O filme está em cartaz no Brasil, creio que desde sexta-feira (12/09/2008), e tem no elenco Julianne Moore, Danny Glover, Alice Braga, Mark Ruffalo, Gael García Bernal, Don McKellar, Maury Chaykin, Martha Burns. Eu gostei de ter assistido, mas eu não diria que é “palatável”, é bom pensar bem antes de se aventurar. O enredo mostra, após uma epidemia de cegueira, a degradação do ser humano e a tentativa de um grupo de pessoas em manter a dignidade, buscando não simplesmente enxergar e sim compreender um ao outro.



***

Sopro de José Saramago

"O medo cega, disse a moça dos óculos escuros. São palavras certas, já éramos cegos no momento em que cegamos, o medo nos cegou, o medo nos fará continuar cegos...”
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domingo, 14 de setembro de 2008

domingo, 14 de setembro de 2008

Para uma avenca partindo - Caio Fernando Abreu


Hoje, para iniciar a semana, selecionei um trecho do Caio Fernando Abreu. Caio nasceu em Santiago do Boqueirão (RS) em 1948 e faleceu em Porto Alegre (1996). Foi jornalista e escritor e seus escritos versam sobre sexo, medo, morte e solidão.
Há horas que estou pensando em publicar aqui, pois é mais um escritor sensível, que me encanta. Como é meu hábito, vou transcrever somente alguns trechos que foram extraídos do conto Para uma avenca partindo (Fragmentos – 8 histórias e um conto inédito, L&PM).
A música que está tocando é Valsinha, do Chico Buarque, que é linda, que amo e que achei que combinava - um pouquinho pelo menos - com o texto do Caio.

Tenham todos uma bela semana.

***

Sopro de Caio Fernando Abreu

- Olha, antes do ônibus partir eu tenho uma porção de coisas pra te dizer, dessas coisas tão difíceis de serem ditas que geralmente ficam caladas, porque nunca se sabe nem como serão ditas nem como serão ouvidas, compreende?...

...é verdade que eu sabia, que havia uma outra coisa atrás e além de nossas mãos dadas, dos nossos corpos nus, eu dentro de você, e mesmo atrás dos silêncios, aqueles silêncios saciados, quando a gente descobria alguma coisa pequena para observar, um fio de luz coado pela janela, um latido de cão no meio da noite...

...você cresceu dentro de mim dum jeito insuspeitado, assim como se você apenas uma semente e eu plantasse você esperando nascer uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez uma samambaia, no máximo uma roseira...em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente, você não cresceria se eu a mantivesse presa num pequeno vaso, eu compreendi a tempo que você precisava de muito espaço...

(Para uma avenca partindo - CFA)
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sábado, 13 de setembro de 2008

sábado, 13 de setembro de 2008

Vídeo - Nei Lisboa

O sábado corrido, correndo.

Vídeo que gosto para quem vir e quiser apreciar.

Nei Lisboa é um cantor e compositor gaúcho. Eu adoro a voz, as letras.

Tenham todos um ótimo fim de semana.


Sopro de Nei Lisboa



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sexta-feira, 12 de setembro de 2008

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Todo Anjo é Terrível – Vontade de mudar

Esses dias fui conhecer o template blog do Álisson da hora (aqui Em jeder Engel ist schrecklinch ). Chegando no Todo Anjo é Terrível, me deparei com um cenário Wim Wenders, com fotos do filme Asas do Desejo (ou Der Himmel über BerlinO céu sobre Berlim). Eu conheci a obra do diretor alemão Wim Wenders por meio do filme Tão longe, tão perto e tive que buscar o Asas do Desejo para compreendê-lo melhor. Muito resumidamente é a história de um anjo que se apaixona por uma trapezista. A fotografia do filme é i-n-c-r-í-v-e-l!

Volta o meu barco para o norte desejado! Então voltando ao blog do Álisson, me deparei com o cenário e com...poemas belíssimos. Não sou de fazer muitos comentários, mas não resisti comentei e depois o Anjo veio aqui me visitar. No dia oito de setembro me contou que também é virginiano e que faria aniversário hoje (dia doze).

Como me encantei com os seus escritos, resolvi postar um poema dele aqui e aproveitaria para retribuir o carinho de suas visitas. Não tenho certeza se o aniversário é do criador ou da criatura, mas se eu estiver enganada, a culpa não é minha e sim de um Anjo Terrível.

Bem, mesmo assim me arrisco e desejo ao Álisson a realização de toda felicidade que ele desejar. Selecionei um poema, solicitei e ele cedeu a publicação. Fiquem com ele e de onde veio esse tem mais beleza.

***
Sopro de Álisson da Hora

A Vontade de Mudar

algumas pedras

rolam nas extremidades da chuva

do propósito do lançar na poça

do reverberar na alma

toca perigosamente as pontas dos dedos

a mudança a vontade

é inútil

as portas rompem

rangem

as águas petrificadas quebram meus

olhos envidraçados

enternedurecidos

eu mesmo despenco algum inferno abaixo

esmaecida a minha claridade

resta-me a opção de ser sempre ímpar

de mudar

talvez, apenas, a vontade

***
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quarta-feira, 10 de setembro de 2008

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Um poeta paraense

Antonio Juraci Siqueira, nasceu em 1948 no interior do Pará e descobriu a literatura por meio dos folhetos de cordel. Oficineiro, performista, contador de histórias.

Sopro de Juraci Siqueira

Arte Poética

Hoje,

amanheci meio peixe,

meio pássaro.

Estou aprendendo a nadar,

tomando aulas de vôo

e aprimorando o canto.

Amanhã,

pássaro pleno,

insofismável peixe, debulharei meu canto sobre a terra

em nados abissais

e vôos rasantes.

***

A Lugirão, do Voz Ativa , me deu esse selo. Agradeço e repasso para a Thania do Arte Imita Vida Imagens , para a Ciça do Paradoxo Interior e para o Nó e Bengala


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terça-feira, 9 de setembro de 2008

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Meu presente, meu carinho

Eu estou sempre me perguntando o que quero com um blog. É verdade, por que escrever eu não sei, poeta [ou poetisa, se preferir] não sou. Primeiro pensei que podia ser um lugar para eu colocar todas as fotos que gosto e não dá para imprimir, portanto só é acessível quando me lembro delas e ligo o computador.

Uma vez – lá se vai quase uma vida (acho que estou muito velhinha hoje) – eu achei que podia ser escritora, mas não fui além de um caderno. Verdade eu tinha um caderno para desabafos. Não precisava ser poetisa, podia ser uma cronista como a Martha (olha que louca!). Depois pensei em ser pintora, artista mesmo. Mas não cheguei a cometer o desatino de comprar pincéis e telas. Fiquei com os lápis de cor, que eu adoro. Na verdade era mais uma terapia. Bom, nada disso se concretizou e ser artista ficou no passado. O pouco de sensibilidade guardei para admirar o talento de outros.

Vejam só, eu falava da função do blog e enveredei por outro assunto – está bem, mas tem uma relação. Para que mesmo eu queria um blog? Quer dizer, querer eu não queria. Minhas amigas Lu e Layla acabaram por me convencer (viciar seria mais correto) e a Layla, que está fazendo “carreira” nessa onda de construir e customizar blogs criou esse para mim. Demorei meses até assumi-lo, sempre me perguntando a tal da função. Sabe como é, virginiana, sempre tem que ter um porque e tal.
Então ontem, definitivamente me caiu a ficha, que na real eu quero o blog para encontrar amigos já conhecidos e fazer novos.

Pois que tudo isso é para agradecer todos os amigos que comentaram aqui ontem:
Lugirão: que me fez uma homenagem linda no seu Voz Ativa

Layla: do Ressaca
que chegou aqui se desculpando – até agora não do quê! Eu que só tenho agradecimentos à ela.

Mineira: que foi a responsável pela amizade entre ela, Layla, Lu e eu, pois a tagarelice iniciou no Matutando

Neiva - que conheci faz pouco, mas tem sido presente aqui no Sopros

Tania Tum Tum Tum: vai fazer aniversário que nos encontramos por aí e que fez um lindo slide com as fotos do blog.

Times: que me trouxe um abraço muito fofo e carinhoso. Também nos encontramos sempre por aí.

Ciça: lá do Parodoxo Interior
sempre trazendo seu carinho.

Thania: que também tem me prestigiado e elogiado as imagens, logo ela que é uma especialista em imagens lá no Arte Imita Visa - Imagens

E o Álisson (poetanjo da Layla, lá do Ein jeder Engel ist Schrecklich -Todo anjo é terrível - que tive o prazer de conhecer às vésperas do meu aniversário e coincidentemente também é virginiano e...um poeta dos melhores.

Ainda tem mais a Glória, a Iara, o Nó e o Daniel que passaram no Voz Ativa para confraternizar. E a Tita, parceira no Tagarelas que mandou email.

Valeu muito ter encontrado vocês aqui e lá ontem!
Beijos miles para vocês!

***

E hoje recebi um presente do Mark e nem é necessário dizer que adorei!

***

Sopro de uma lembrança


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segunda-feira, 8 de setembro de 2008

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Cores

Uma imagem colorida para um bom início de semana!


Vamos de Mário Quintana novamente.

Sopro de Quintana

Na bola de cristal procuro meu futuro:

futuro tão brilhante que aos olhos me faz mal...

Não, não esse brilho fácil da girândolas,

mas uma súbita, silenciosa explosão de cores

- prenúncio da total

subversão! -

até que então o Grande Mágico

regendo o novo Caos

(...e mesmo porque nada pode ser destruído...)

até que o Grande Mágico

- afinal -

com todos os espantosos subprodutos da última Bomba H

recomponha o milagre de cada indivíduo!

(O futuro - MQ)

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domingo, 7 de setembro de 2008

domingo, 7 de setembro de 2008

Dia da pátria - que pátria eu quero?

Acordei meio atordoada com uma explosão e fiquei uns minutos tentando entender o que se passava. Seriam fogos de artifícios? Será que é dia de GRENAL e eu não sei? Levantei e fui para a caminhada matinal. Dia frio, céu chumbo e vento cortante. No brique da Redenção tudo meio parado. Lembrei! Hoje é sete de setembro, comemoração do dia da pátria. Há desfile, parada militar. Devem estar todos lá. Resolvi caminhar até o acontecimento, pois já estava na rua mesmo...

Sempre me impressiono como esse evento encanta as pessoas. Uma herança dos tempos da ditadura para “justificar” patriotismo. Patriotismo? Bom, sei lá. Só sei que me impressiono. Fiquei lembrando-me dos tempos de colégio, eu não era obrigada a desfilar – já tinha ocorrido a “abertura política” - mas participava na torcida das bandas do colégio. Era divertido, uma interação e uma disputa saudável.

Continuei caminhando e vendo o rosto dos soldados, uns muito novos e eu pensando: será que eles sentem mesmo isso que estão gritando? Talvez quisessem estar em outro lugar qualquer, também não sei. Pensei em quanto suas famílias deveriam agradecer de não ter que enviá-los à guerra. Está bem, vivemos discutindo a guerra urbana em que nos encontramos. Mas não posso imaginar o que seria ter que usar aquele armamento pesado – e “fora de forma” que vi passar - para “eliminar o inimigo”. Eles estão lá, para nos defender de um inimigo – que nos é invisível até agora - se isto os exigir.

Que triste viver num mundo no qual é necessário manter cidadãos nas casernas se preparando para combate, com o orgulho “na ponta do fuzil”, enaltecendo o uso das armas. Melhor seria prescindir de tal serviço e talvez utilizar toda essa juventude em ações de paz. Senti uma piedade de mim, deles, de nós. Uma melancolia de ver aqueles rostos tão jovens gritando gritos de guerra. Nossos “inimigos” são tão outros, nossa pátria carece mesmo é de um ufanismo positivo, construtivo, que pense resoluções para nossos problemas sociais, para uma divisão de renda que seja justa.

Precisamos muito eliminar inimigos que mandam o produto do nosso trabalho para paraísos fiscais, extraindo do nosso povo o direito à cidadania, que passam poucas horas na cadeia e muitos anos corrompendo e criando uma rede de contatos que os libertem rapidinho para novas falcatruas. Nosso inimigo está aqui e planeja “estratégias de guerra” para manter o analfabetismo, a informação truncada, que gera todos os problemas sociais que todos nós conhecemos. A estratégia que vai lhes manter no centro do poder econômico.

Nosso principal inimigo está aqui e não são os urutus, os fuzis que vão eliminá-lo. Depois de pensar tudo isso, lembrei-me das explosões que ouvi ao acordar, certo que não pretendo ouvir esse som e sim a sonora canção de cidadãos que saibam ler e compreender um texto de um dos autores que tanto gosto de publicar aqui.

Feliz Brasil para todos nós.

***

Em tempo: como tudo muda o tempo todo, o céu chumbo deu lugar a um céu azul inigualável!


Tenham todos uma ótima semana!



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sábado, 6 de setembro de 2008

sábado, 6 de setembro de 2008

Saudade - Mais de Martha Medeiros

Outro dia comentei sobre o livro Doidas e Santas da Martha Medeiros. Já faz um tempo que ando saudosa. Saudades gerais e irrestritas, sabe como é? Saudade de pessoas minhas, de lugares, de viagens que fiz. Há momentos que ela chega mais forte, mas em geral suportável. Até poderia escrever um pouco mais sobre o assunto, mas resolvi emprestar um pedaço da crônica da Martha para esse momento.

Não vou de forma alguma transcrever todo o texto, mas vou "pescar" um pedacinho para uma leitura rápida. E ela fala com a propriedade de uma grande escritora que é, por isso vamos à ela.

A saudade não tem nada de trivial. Interfere em nossa vida de um modo às vezes sereno, às vezes não. É um sentimento bem-vindo, pois confirma de quem é ou foi importante para nós, e é ao mesmo tempo um sentimento incômodo, porque acusa a ausência, e os ausentes sempre nos doem.
Por sorte, é relativamente fácil exterminar a saudade de quase tudo e de quase todos, simplesmente pegando o telefone e ouvindo a voz de quem nos faz falta ou indo ao encontro dessa pessoa. Ou daquele lugar que ficou na memória: uma cidade, uma antiga casa. Uma saudade do sabor de uma comida, de um cheiro do passado, de um abraço...(Martha Medeiros).

Está certo, se você pensou em uma saudade que não é possível abrandar, o objetivo dela era mesmo falar dessa saudade, mas não é bem o meu objetivo no momento. 

E voltando na direção que queria e a propósito de odores e sabores, esses dias eu caminhava por minha rua e me venho um cheiro de infância, como se eu tivesse sido transportada no tempo. Sinto perfumes, cheiro de fumaça, odores de comidas da casa de mãe. Tenho muito dessas sensações, que me pegam sempre desprevenida e viajo no tempo, instigando minhas lembranças e saudades. Não é uma dor, é acima de tudo um sentimento bom, de que minha memória olfativa sobrevive a despeito do tempo e da distância.

Sopro de imagem

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sexta-feira, 5 de setembro de 2008

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Um pouco da alma portuguesa - sopros de Lisboa

No mesmo sentido dos versos de Pessoa, tenho em mim um pouco da alma portuguesa cantada em verso e prosa.

Imagem, poesia e música portuguesas

A música que toca aqui é: Canção da Mar 

(Com: Dulce Ponte; Composição: Frederico Brito e Ferrer Trinadade). 

Li também que a música também foi gravada por Amália Rodrigues em 1955.

Tenham um lindo findi! Aproveitem tudo de bom que ele lhes proporcionar.

Sopro de uma noite em Lisboa

***

Sopro de Fernando Pessoa

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

***
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

***
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu?"
Deus sabe, porque o escreveu.

(Não sei quantas almas tenho - F. Pessoa)

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terça-feira, 2 de setembro de 2008

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Cores e emoções

Só a magia colorida do pôr-do-sol me carrega a sonhar novamente.
E pinta o céu de alaranjados, azulados, lilases, amarelados.
Em cada tonalidade descubro um mundo, um ser, um carinho.
Tocam-me todas as cores, me arremesso sobre elas,
que abraçam, me sorriem e me remetem aos sonhos.
Sonhos fugazes, vívidos, como de uma época que nunca passou, por mais que o tempo insista em correr.
Os morros em primeiro plano vão se tornando escuros, esses são meus dias atuais.
Por traz deles a maior e mais bonita iluminação que sequer alguém imaginou,
Essa luz sou eu - ou a luz dos meus devaneios.




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