Acordei meio atordoada com uma explosão e fiquei uns minutos tentando entender o que se passava. Seriam fogos de artifícios? Será que é dia de GRENAL e eu não sei? Levantei e fui para a caminhada matinal. Dia frio, céu chumbo e vento cortante. No brique da Redenção tudo meio parado. Lembrei! Hoje é sete de setembro, comemoração do dia da pátria. Há desfile, parada militar. Devem estar todos lá. Resolvi caminhar até o acontecimento, pois já estava na rua mesmo...
Sempre me impressiono como esse evento encanta as pessoas. Uma herança dos tempos da ditadura para “justificar” patriotismo. Patriotismo? Bom, sei lá. Só sei que me impressiono. Fiquei lembrando-me dos tempos de colégio, eu não era obrigada a desfilar – já tinha ocorrido a “abertura política” - mas participava na torcida das bandas do colégio. Era divertido, uma interação e uma disputa saudável.
Continuei caminhando e vendo o rosto dos soldados, uns muito novos e eu pensando: será que eles sentem mesmo isso que estão gritando? Talvez quisessem estar em outro lugar qualquer, também não sei. Pensei em quanto suas famílias deveriam agradecer de não ter que enviá-los à guerra. Está bem, vivemos discutindo a guerra urbana em que nos encontramos. Mas não posso imaginar o que seria ter que usar aquele armamento pesado – e “fora de forma” que vi passar - para “eliminar o inimigo”. Eles estão lá, para nos defender de um inimigo – que nos é invisível até agora - se isto os exigir.
Que triste viver num mundo no qual é necessário manter cidadãos nas casernas se preparando para combate, com o orgulho “na ponta do fuzil”, enaltecendo o uso das armas. Melhor seria prescindir de tal serviço e talvez utilizar toda essa juventude em ações de paz. Senti uma piedade de mim, deles, de nós. Uma melancolia de ver aqueles rostos tão jovens gritando gritos de guerra. Nossos “inimigos” são tão outros, nossa pátria carece mesmo é de um ufanismo positivo, construtivo, que pense resoluções para nossos problemas sociais, para uma divisão de renda que seja justa.
Precisamos muito eliminar inimigos que mandam o produto do nosso trabalho para paraísos fiscais, extraindo do nosso povo o direito à cidadania, que passam poucas horas na cadeia e muitos anos corrompendo e criando uma rede de contatos que os libertem rapidinho para novas falcatruas. Nosso inimigo está aqui e planeja “estratégias de guerra” para manter o analfabetismo, a informação truncada, que gera todos os problemas sociais que todos nós conhecemos. A estratégia que vai lhes manter no centro do poder econômico.
Nosso principal inimigo está aqui e não são os urutus, os fuzis que vão eliminá-lo. Depois de pensar tudo isso, lembrei-me das explosões que ouvi ao acordar, certo que não pretendo ouvir esse som e sim a sonora canção de cidadãos que saibam ler e compreender um texto de um dos autores que tanto gosto de publicar aqui.
Feliz Brasil para todos nós.
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Em tempo: como tudo muda o tempo todo, o céu chumbo deu lugar a um céu azul inigualável!
Tenham todos uma ótima semana!