quarta-feira, 29 de outubro de 2008

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Crônica de uma amizade virtual


Pois é, hoje é o aniversário da Lu , Lugirão, Lúcia Girão. E resolvi escrever umas coisinhas a respeito da nossa amizade virtual. Crônica é pretensão, mas resolvi deixar assim o título. E ainda me prestei para fazer um "cartão" especial, (pagando mico, que nem aqueles caras que ficam em aeroportos...mas com carinho).

Eu a conheci lá no Matutando e sempre lia seus comentários para a Mineira. Achava engraçado aquele nome: Lugirão! E achava também ela meio “esnobe” (só pra implicar [:)]. Lembro os comentários que havia comprado camarão e feito isso e aquilo. E eu do meu lado morrendo de inveja. Além de não ser grande coisa na cozinha, aqui não é nem tão fácil nem tão barato de adquirir camarão, assim...E eu: onde será que mora essa pessoa?

Outra lembrança é que ela não tinha um avatar e um dia a Mineira resolveu sugerir que fizesse um. Nesse dia até comentei o avatar dava uma identidade visual, mas creio que ela nem leu. Era esnobe mesmo! Depois o Kane abriu a campanha pelo avatar da Lugirão e todos começaram a cobrar e ela fez um da Beth Boop, numa pose meio sensual, vestida de vermelho. Pronta para matar!

A Mineira e ela inauguraram o bate-papo por lá e os sábados à tarde era quase sagrado nos encontrarmos e então já se dignava a falar comigo...O passo seguinte foram as conversas por email. E foi então que pude de fato conhecê-la. Fui logo dizendo: posso te chamar de Lu? Tudo bem! Viramos íntimas!

A Lu é o oposto de mim, eu sempre retraída, econômica, introvertida. Ela falante, extrovertida e não manda recados, diz o que tem que dizer diretamente. Diferente daquele poema da Adélia, não usa de subterfúgios, se joga! E talvez essa diferença fez com que nos aproximássemos muito.

A Lu é mãe de três bezerrinhos e é daquelas mulheres “cuidadoras”, que esquecem tudo, menos de se doar. E mesmo não tendo idade para ser minha mãe muitas vezes ela dá conselhos, se preocupa e isso é com todos por quem ela tem amizade. Ela, a Layla e eu acabamos formando os três “éles”, que sobreviveram as idas e vindas das pessoas que encontramos no mesmo período. É fato que a Layla, a Mineira tem mais contato com a Lu que comigo e vice-versa. Não foi planejado, simplesmente é assim. E sem neuroses.

Sempre tive pé atrás em me expor no mundo virtual e a Lu transmite tanta segurança, que, como ela costuma dizer, tem até o meu CEP, tem foto, número de telefone, só falta o número do CPF. Depois de descobrir que não era esnobe, foi fácil criar laços com ela. É muito verdadeira, então vai derrubando as barreiras.

No verão deste ano tive que ficar ilhada em Porto Alegre, digo ilhada, pois aqui há uma debandada para as praias no verão. De férias em casa, final de semana, inevitavelmente conversávamos ao telefone. E ainda fazíamos os planos de um dia eu ir a Fortaleza para nos conhecermos.

Agora, os planos são de nos encontrarmos em Sampa, bater perna na rua 25 de março, conhecer o Museu da Língua Portuguesa e rir muito, jogar muita conversa fora. Isso são planos, a gente não sabe quando vai concretizar, mas talvez seja mais fácil eu ir à Fortaleza mesmo, pois ela não vai deixar dois bezerros sozinhos.

Quando eu cheguei na “blogosfera” jamais imaginava que iria criar laços tão fortes. Hoje é aniversário da Lu e eu desejo que sua vida entre nos eixos, após as mudanças recentes e que seja muito feliz com seus queridos e sempre ilumine a todos com sua presença positiva. Que Deus lhe conceda muita paz e saúde. Lu, tu és muiiito especial!
***

Para completar selecionei uma poesia da Adélia Prado, pois ela fala tão bonito de mulheres...dessas esquisitas almas femininas...

...e como não ouve a música do blog, vou ter que deixar um vídeo também...

***

Sopro de Adélia Prado [Azul sobre amarelo, maravilha e roxo]


Desejo, como quem sente fome ou sede,

um caminho de areia margeado de boninas,

onde só cabem a bicicleta e seu dono.

Desejo, como uma funda saudade

de homem ficado órfão pequenino,

um regaço e o acalanto, a amorosa tenaz de uns dedos

para um forte carinho em minha nuca.

Brotam os matinhos depois da chuva,

brotam os desejos do corpo.

Na alma, o querer de um mundo tão pequeno,

como o que tem nas mãos o Menino Jesus de Praga.


***

Sopros de Vivaldi


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terça-feira, 28 de outubro de 2008

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Outubro Rosa


Palácio do Piratini - sede do governo do RS - PoA - iluminação especial do outubro rosa (G1)


Eu estou meio atarefada hoje e não ia postar, mas lembrei que um domingo desses fui ao Brique da Redenção - uma feira de artesanto no Parque do mesmo nome - e estavam divulgando a campanha do OUTUBRO ROSA.

Parte da campanha “Não aceite informação pela metade”, idealizada pela Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), consiste na iluminação de monumentos históricos do país em rosa - cor oficial do câncer de mama.

A iniciativa tem como objetivo dar visibilidade à luta contra o câncer de mama, fortalecendo a importância do diagnóstico precoce e do acesso de qualidade ao tratamento. “A campanha quer lembrar as mulheres que elas precisam se cuidar e estar atentas às condições de sua saúde”, afirma Rosa Rutta, superintendente da Femama (Fonte G1).

Também vi domingo, no programa Saia Justa, que eles estavam distribuindo um colar - feito com diferentes tamanhos de "bolinhas" que auxiliam as mulheres a detectar nódulos no auto-exame.
Além do auto-exame, a mamografia é o melhor método para diagnosticar precocemente o câncer de mama, que pode ser tratado com sucesso. Daí a importância de visitar periodicamente ginecologista.

Esse tipo de informação deve ser reforçada insistentemente e não somente quando existe empresas que patrocinam um produto por trás da campanha. De qualquer forma, achei importante fazer um registro.

Em Porto Alegre, além do Palácio do Piratini, a Usina do Gasômetro também foi iluminada.

Demorou, mas lembrei! Como é só um recado não abri um novo sistema de comentários.
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segunda-feira, 27 de outubro de 2008

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Vaidades ou frivolidades femininas?

Cena do filme A insustentável leveza de ser



Esses dias eu estava passeando numa livraria e vi mais um livro de Clarice Lispector e que me chamou atenção pelo título Só para mulheres. Eu imagino que até hoje os livros dela devem vender muito, para que os editores continuem “catando” coisas dela para publicar.

Esse livro em questão é uma compilação da Clarice colunista feminina, em diferentes jornais e sob diversos pseudônimos. Os codinomes foram Tereza Quadros, Helen Palmer e Ilka Soares. Os temas alternavam entre conselhos de beleza, receitas e segredos. Nada muito diferente das milhares de revistas femininas que lotam as bancas de revistas e que, por se multiplicarem, certamente têm seu público cativo, caso contrário já teriam se extinguido.

O interessante disso é o registro histórico do comportamento feminino na década de 50, os chamados anos dourados. Somos modernas, independentes, assumimos posições de chefe de família, podemos ter mais ou menos dinheiro, mas sempre somos minimamente vaidosas. Eu creio nisso, pois por mais desencanadas que sejam as mulheres que conheço, sempre tem uma vaidadezinha que faz parte da nossa personalidade.

E essas coisas escritas por uma mulher que escrevia coisas tão... psicologicamente densas e complexas, é uma curiosidade e tanto – pelo menos para mim – admiradora descarada dela. Sobre a vaidade ela escreveu, em um texto intitulado Aparência: tudo tem jeito:

Você é "moralmente" tão antiquada a ponto de considerar vaidade feminina uma frivolidade? Você já devia saber que as mulheres querem se sentir bonitas para se sentirem amadas. E querer sentir amada não é frivolidade...
...Quer saber de uma coisa? Obesidade tem jeito. Cabelos sem vida tem jeito. Rosto sem graça tem jeito.
O remédio? O remédio é não ser uma desanimada triste. E o outro remédio é ter como objetivo ser um “você mesma” mais atraente – e não o de atingir um tipo de beleza que nunca poderia ser o seu.

O diferente de hoje em dia, é que se abre uma revista das que citei acima, e lá aparecem os tratamentos mais caros para que nos transformemos em outra pessoa. Hoje, se você tiver dinheiro, pode ter um rosto, cabelo, corpo completamente diferente do original de fábrica.

A indústria da beleza é uma que mais progride nesse mundo-supermercado, os cosméticos que prometem coisas inimagináveis, as cirurgias plásticas e por aí vai. Confesso que não sou o tipo de pessoa que diz: nunca farei tal coisa. Mas sou criteriosa com essas novas tecnologias em... "saúde". Por hora, me contento com o cabeleireiro, a manicure, uma esteticista de vez em quando. Por enquanto, não posso dizer nada do por vir.

Além disso, um batom, um lápis nos olhos, um corretor de olheiras (após uma noite insone), um rímel, dá um ar mais saudável ao rosto. Bom de olhar ao espelho! Um bom perfume, hummm. Isso quando se fala em produtos...

***

Por fim, Hilda Hilst, o poema que deveria ter sido antes e foi substituído.

***

Sopro de Hilda Hilst

XII

Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
desejasse

Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.

Te olhei. E há um tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta
Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.

De Júbilo Memória Noviciado da Paixão (1974)
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domingo, 26 de outubro de 2008

domingo, 26 de outubro de 2008

Chuva, voto e domingo!

peguei na internet


Mudaram as estações nada mudou...

Essa semana, em uma das inúmeras vezes que pensei em textos para colocar no blog, me passou pela cabeça falar do tempo. E nem trabalho com meteorologia! Então tá! Sentei em frente ao computador e comecei a digitar um texto a respeito do assunto. Milhares de coisas na cabeça, primeira coisa que aparece é essa canção. Comecei a cantarolar internamente e lembrei que ela já havia sido trilha sonora na minha vida. E me vi sorrindo da situação... e novamente uma outra canção... nesses dias tão estranhos, fica a poeira se escondendo pelos cantos... E daí? Está querendo dizer o que?

Então voltemos a colocar esse barco no rumo inicial. Só queira dizer que sempre que muda a estação por aqui, a coisa se complica. Não dá muito para saber que temperatura se vai enfrentar. Entre 17 e 30°C tudo pode acontecer. E esse ano a quantidade de chuva foi incrível.

Acontecem dias de torrar os miolos e na manhã seguinte, apostando em novo dia quente, talvez seja necessário voltar da rua para apanhar um casaquinho. Se estiver num dia de "revoltada", talvez se irrite mais com isso.
Hoje (ou ontem) a chuva não deu trégua, parecia que estavam usando baldes para atirar água lá de cima. E a relevância disso? Uma porção - se for discutir o aquecimento global. E outras tantas - se formos discutir o reflexo disso no humor nosso de cada dia.
Muitos dias seguidos de céu nublado, mau-meu humor na certa! Mesmo que nem pareça, pois teimosia é um defeito meu, e teimo em não ceder a ele (mau-humor). E completando o cenário, hoje é dia de segundo turno. Provavelmente minha candidata não se eleja. Oxalá não chova o dia todo!


...mesmo com tantos motivos pra deixar tudo como está,

nem desistir nem tentar e agora tanto faz...

...esse é nosso mundo, o que é demais nunca é o bastante...

Só para não ser tão “reclamona” uma poesia lindinha.

***
Sopros de Hilda Hilst

Aflição de ser eu e não ser outra.

Aflição de não ser, amor, aquela

Que muitas filhas te deu, casou donzela

E à noite se prepara e se adivinha

Objeto de amor, atenta e bela.

Aflição de não ser a grande ilha

Que te retém e não te desespera.

(A noite como fera se avizinha)

Aflição de ser água em meio à terra

E ter a face conturbada e móvel.

E a um só tempo múltipla e imóvel

Não saber se se ausenta ou se te espera.

Aflição de te amar, se te comove.

E sendo água, amor, querer ser terra.
(a chuva segue insistente)
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sábado, 25 de outubro de 2008

sábado, 25 de outubro de 2008

As minhas sete músicas...parte 1

A Lu , me passou, já há alguns dias atrás um "meme" - confesso que não sei porque se chama assim - e eu deveria passar para sete pessoas. Eu preferi não repassar e peço desculpas a ela por isso. De qualquer forma, o meme consiste em eu citar sete músicas que me são "companheiras". Eu tenho certamente bem mais que sete, mas como a regra é essa, vou postar sete! Só que vou quebrar mais uma regra dos "memes": irei postar os vídeos a conta-gotas, devagar...

Hoje, que é sábado - a flor da semana - vou colocar uma música (mais uma) na voz do Nei Lisboa e uma música do U2 (pois ontem/hoje/agora a pouco fui a um irish pub e lembrei deles... e os ouço todos os dias... podia ser qualquer outra deles, mas gosto muito dessa).
O vídeo do Nei fui eu mesma quem fez, pois não achei a música no youtube, com fotos minhas já postadas no blog e umas que fiz do cd [como a idéia é a música e não a qualidade do vídeo]. Ouço tanto o cd Hi-FI, que seria impensável não colocar pelo menos uma música dele (e são só sete :(...).
Conforme for possível, eu vou colocando as outras cinco músicas. Tá bom, ok! Sei que descaracterizei o meme, mas a Lu disse que eu podia aceitar ou não. Eu aceitei, mas posso fazer do meu jeito estranho de ser? :)
Bom findi!
***
"Sopro de meme" número 1: Nei Lisboa




Sopro de meme número 2: U2 - Sunday, bloody sunday

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quinta-feira, 23 de outubro de 2008

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Lisboa revisitada

Lisboa - Torre de Belém - Rio Tejo


Outro dia – muitos – fiz um post curtinho, que chamei de Um pouco da alma portuguesa - sopros de Lisboa. Tinha foto, tinha canção com Dulce Ponte e poema de Pessoa. E lá eu dizia que tenho em mim um pouco da melancolia da alma portuguesa. Nada demais, pois rememorando Adélia Prado aqui: dor não é amargura... minha tristeza não tem pedigree, já minha vontade de alegria, sua raiz vai ao meu mil avô.

De qualquer maneira, os dias têm sido estranhos: trabalho, cansaço, lerdeza. Sabem quando tudo é slow motion? [não resisti ao termo em inglês]. Muito lento mesmo e em situações assim é muito mais certo que se fique um pouco mais pensativo, viajando, querendo estar em outro lugar. E talvez seja por isso que só tenho escolhido escritos mais reflexivos. Tenho comigo que não devo estimular a minha alma portuguesa, pois caso contrário ela pode me dominar – o lado... meio... melancólico.

Enfim, o preâmbulo foi para justificar o título [que furtei novamente], que é de um/dois poema(s) de Pessoa (Álvaro Campos). Que, aliás, adoro como praticamente tudo dele (não, não quero nada/já disse que não quero nada - 1923 ou nada me prende a nada/quero cinqüenta coisas ao mesmo tempo - 1926...).

Voltando: o título sugere que quero retornar ao tema da alma portuguesa.

Hoje, por acaso, li o poema, intitulado Lisboa, de uma cearense chamada Virna Teixeira. Uma escritora-poeta-médica, daquelas que escreve curtinho e deixa a nossa imaginação correr solta. A minha anda louca para sair voando, então resolvi revisitar Lisboa, e a música portuguesa. Primeira lembrança foi o Madredeus. Mas em seguida me veio um fado, que o Caetano Veloso gravou e encontrei na voz da Dulce Ponte. Madredeus virá em outro momento. O nome da música é Estranha Forma de Vida, é triste, eu gosto, mas – ouso dizer – me divirto um pouco com algumas expressões. Vou deixar a letra também, pois tem pessoas que não conseguem ouvir a música do blog.


***

Letra: Foi por vontade Deus

Foi por vontade de Deus
que eu vivo nesta ansiedade.
Que todos os ais são meus,
Que é toda a minha saudade.
Foi por vontade de Deus.
Que estranha forma de vida
tem este meu coração:
vive de forma perdida;
Quem lhe daria o condão?
Que estranha forma de vida.
Coração independente,
coração que não comando:
vive perdido entre a gente,
teimosamente sangrando,
coração independente.
Eu não te acompanho mais:
para, deixa de bater.
Se não sabes aonde vais,
porque teimas em correr,
eu não te acompanho mais.
(Alfredo Duarte/Amália Rodrigues)


***

Sopro de Virna Teixeira : Lisboa

Os pés
caminham,
molhados
entre óculos
analíticos e
gabardinas
pela ladeira
a chuva
escoa
saudade
mágoas
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terça-feira, 21 de outubro de 2008

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Coragem e Covardia segundo Clarice

Paul Klee - Paysage aux oiseaux jaunes

***

Toda vez que, por um motivo ou outro, me perco e não tenho o que dizer, tudo que penso em escrever já foi escrito. Tudo que me vai à “alma” a Clarice Lispector escreveu. Posso fazer absolutamente nada sobre isso! Resigno-me e coloco algo dela...e...vamos:

***

Sopro de Clarice - Paul Klee

Se eu me demorar demais olhando Paysage aux oiseaux jaunes, de Klee, nunca mais poderei voltar atrás. Coragem e covardia são um jogo que se joga a cada instante. Assusta a visão irremediável e que talvez seja a da liberdade. O hábito de olhar através das grades da prisão, o conforto de segurar com as duas mãos as barras, enquanto olho. A prisão é a segurança, as barras o apoio para as mãos. Então reconheço que a liberdade é só para uns poucos. De novo coragem e covardia se jogaram: minha coragem, inteiramente possível, me amedronta. Pois sei que minha coragem é possível. Começo então a pensar que entre os loucos há os que não são loucos. É que a possibilidade, que é verdadeiramente realizada, não pode ser entendida. E à medida que a pessoa quiser explicar, ela estará perdendo a coragem, ela já estará pedindo; Paysage aux oiseaux jaunes não pede. Pelo menos calculo o que seria liberdade. E é isso o que torna intolerável a segurança das grades; o conforto desta prisão me bate na cara. Tudo o que eu tenho aguentado - só para não ser livre...
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segunda-feira, 20 de outubro de 2008

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Mineirices e matutices

Esta é a semana das mineiras, aqui e acolá. Hoje é aniversário da Cíntia Mineira, meio londrina agora, eu diria. Mas a Mineira faz parte dessa história de “estar na internet”, pois afinal, foi no Matutando que nos encontramos e ganhamos o “país e o mundo” :) . Eu sempre afirmo que se tem uma coisa que faz aproximar-me das pessoas, essa “coisa” é a gentileza. E foi isso que sempre encontrei nas nossas “matutices” lá com a Mineira.

Desejo que todos os sonhos dessa moça se cumpram, que seja feliz na sua busca, no seu caminho, pois, foi em busca de realizações tão longe, e isso é admirável. Vou aproveitar para presenteá-la com um poema de outra mineira, Adélia Prado – poema que espero que ela goste. E com uma música [que é um de seus cartões de visita no blog] da Legião Urbana.

Já estou com vontade de ouvir o Renato aqui faz horas e vou aproveitar para ouvir Sereníssima (“sou um animal sentimental/me apego facilmente ao que desperta o meu desejo...”). Acaba que era para ser do gosto dela e satisfiz gostos meus também :). Vamos então!


***


Sopro de Adélia Prado [Com licença poética]


Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo.
Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
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domingo, 19 de outubro de 2008

domingo, 19 de outubro de 2008

Sopros de Layla Lauar

Irises in Monet's Garden

Faz pouco mais de um ano e meio que conheci a Layla Lauar , aqui nesse “país” – como ela mesma nominou esses dias, o mundo virtual. A primeira coisa que me chamou atenção nela foram seus comentários inteligentes e posteriormente sua gentileza e extremo carinho no tratar as pessoas. Acompanhei seus primeiros escritos no Ressaca e vi crescer amigos por lá, encantados com a maneira especialmente carinhosa e solicita.

Estou acreditando na minha memória para lhe oferecer esse post, pois ela (a memória) me avisa que hoje é seu aniversário e hoje o meu carinho e agradecimentos especiais são para ela, principal responsável pela existência do Sopros de Lis.

Que seus dias deste novo ano sejam iluminados, serenos e repletos de amor e paixão, como ela gosta.
Eu “furtei” um poema lá do Ressaca para colocar aqui, espero que ela não fique chateada por ter feito isso sem autorização.


***

Sopro de Layla Lauar por ela mesma

Sou forte como uma rocha e suave como uma seda. Se apaixonada, mergulho fundo, cometo loucuras, sou um furacão de emoções. Retribuo com amor o amor que me dedicam e ao ódio retribuo com indiferença. Nada cobro para não ser cobrada e também nada temo, vou à luta pelo que desejo. Sou tímida e ao mesmo tempo audaciosa. Não sou santa e nem demônio, sou simplesmente uma mulher apaixonada pelo amor, pelos animais, pela natureza, pela vida enfim.



***

Branca e pálida a lua
deslizava no céu entre nuvens,
que choviam gotas de prata.
Os pingos que caiam
sobre a minha pele nua,
eram teus dedos bailarinos,
dançando bela e ritmada coreografia,
por toda a minha geografia.
(06/02/2008)
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sábado, 18 de outubro de 2008

sábado, 18 de outubro de 2008

Desencontros


Há dias em que [aparentemente] nada combina com nada, música francesa (Edith Piaf), poesia brasileira. E mais um monte de coisa doida por aí...e loucuras de "amor"...

***

Sopros de Vinicius de Moraes

A carta que não foi mandada

Paris, outono de 73

Estou no nosso bar mais uma vez
E escrevo pra dizer
Que é a mesma taça e a mesma luz
Brilhando no champanhe em vários tons azuis
No espelho em frente eu sou mais um freguês
Um homem que já foi feliz, talvez
E vejo que em seu rosto correm lágrimas de dor
Saudades, certamente, de algum grande amor

Mas ao vê-lo assim tão triste e só
Sou eu que estou chorando
Lágrimas iguais
É, a vida é assim, o tempo passa
E fica relembrando
Canções do amor demais
Sim, será mais um, mais um qualquer
Que vem de vez em quando
E olha para trás
É, existe sempre uma mulher
Pra se ficar pensando
Nem sei, nem lembro mais


***
"De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo"
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quinta-feira, 16 de outubro de 2008

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Insustentável leveza

Pôster do filme A insustentável leveza do ser

O ato de escrever é algo curioso – não sei se era “curioso” mesmo que eu queria dizer, minhas poucas palavras não sabem se expressar. Já disse e me repito sempre, que os textos por aqui se escolhem e tudo vai dependendo do meu estado de espírito. É uma repetição, também, dizer que um tema revela outro e todos juntos montam o quebra-cabeça da memória.

O primeiro motivo do post de hoje – meio preguiçoso – foi um poema de Emily Dickinson. Entretanto ao ler e reler, ele me remeteu ao livro do Milan Kundera [A insustentável leveza do ser], que li há muito tempo e que muito me impressionou. No meu quebra-cabeça interno, eles se complementaram e gritaram em uníssono para aqui estarem juntos. Eu não lutei contra.

***

Sopro de Milan Kundera

“Para Sabina, viver significa ver. A visão encontra-se limitada por duas fronteiras: Uma luz de tal modo intensa que nos cega e uma obscuridade total. Talvez seja daí que lhe vem a repugnância por todos os extremismos. Os extremos marcam a fronteira para lá da qual não há vida, e, tanto em arte como em política, a paixão do extremismo é um desejo de morte disfarçado."

“O mais pesado dos fardos nos esmaga, verga-nos, comprime-nos contra o chão...Quanto mais pesado é o fardo, mais próxima da terra está nossa vida, e mais real e verdadeira ela é. Em compensação, a ausência total de fardo leva o ser humano a se tornar mais leve do que o ar, leva-o a voar, a se distanciar da terra, do ser terrestre, a se tornar semi-real, e leva seus movimentos a ser tão livres como insignificantes. O que escolher então? O peso ou a leveza?"


***
Sopro de Emily Dickinson

A separação por longos anos não cava
Brecha que em instantes não se preencha;
A ausência da feiticeira
Não invalida o encantamento

As milenares cinzas
Remexidas pela mão,
Que as atiçou quando eram chama,
Haverão de acordar e compreenderão
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terça-feira, 14 de outubro de 2008

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Poemas no ônibus

Henri Matisse (1939) - Liseuse sur foud noir

Quando “ando” de ônibus em Porto Alegre, minha distração é ler os poemas que são afixados no vidro das janelas. É uma delícia ficar conhecendo novos escritos durante uma viagem, as minhas em geral são curtinhas, mas dá para apreciar. É uma forma muito interessante de divulgar a obra dos poetas e de “semear” poesia, lirismo.

O Projeto Poemas no ônibus está em sua 16ª edição e se alguém tiver interesse em conhecer outros, pode visitar.
AQUI

Um dia desses me encantei com um singelo poema e que compartilho com os visitantes do Sopros.



***


Sopro de Márcia Maranhão De Conti



Flor
Sou catadora de palavras.
Aceito as desprezadas.
Caço outras muito raras
que se acham em dicionários.

Aprendi a reciclar

Nos lixões de cada história
há tecidos de palavras
fragmentos encardidos
escondidos em buracos.

Cato a lágrima
Ponho rima
Colho a flor.
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segunda-feira, 13 de outubro de 2008

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Segunda-feira e...paixão

Cena do Filme Memórias de uma Gueixa

Se o sábado é a flor da semana, segunda-feira é o quê? Não sei, só sei que muito chato. Passamos dois dias em casa, na traquilidade - às vezes nem tanto, pois professor tem trabalho sempre e outras profissões também - com pessoas queridas, enfim, sempre tem algo bom para se fazer, além de poder dormir até mais tarde. Hummm.

Vou começar a segunda-feira com uma crônica do mineiro Affonso Romano de Sant'Anna. Chama-se Variações em torno da paixão. Andava com vontade de escrever algo dele por aqui e eis que chegou a hora. Muito que gosto de crônicas, como gosto de poesia. Enfim, gosto de literatura.

A crônica já foi publicada em jornais, mas ela é uma interessante abordagem sobre a paixão. E sendo "uma abordagem" pode haver controvérsias, mas há muito escrito ali que quem já se apaixonou sabe que viveu. Foram suprimidos alguns poucos parágrafos... Há um livrinho de crônicas do autor, desses tipo coletânea, que é mais barato e se alguém tiver interesse em ler outras, fica a dica (Tempo de delicadeza, LP&M).

Vamos lá então!

***

Sopro de Affonso Romano de Sant'Anna


Paixão é a alucinação amorosa.

E os apaixonados são de duas espécies: os generosos que se dão inteiramente, se jogando estabanadamente nas mãos do outro, e os possessivos, que querem que o outro se incorpore a eles convertidos em sombra viva.

Mas talvez haja um terceiro tipo: o dos que não se apaixonam, mas despertam paixões. Na impossibilidade ou no medo de se apaixonarem, posto que paixão é abismo, alimentam-se da paixão alheia, ou melhor, incentivam a paixão em torno para preencher algo em si.

Paixão, por isto, é arma de dois ou três gumes. E corta. E sangra. Se não sangrou, se não teve insônia, se não desesperou, se não ficou com a alma dependurada num fio de telefone, se não ficou exposto na úmida espera, paixão não era.

Talvez fosse desejo, que o desejo é diferente.

No desejo a gente quer o outro para possuí-lo apenas passageiramente. É como se fosse um apetite despertado por um fruto ou alguma comida saborosa que saliva nossos sentidos. É como se fosse possuir um objeto na vitrina. É um desejo de posse natural, estético, erótico, mas, sendo mais desejo que qualquer outra coisa, isto vai passar.

E passa.

A paixão, não.

Na paixão a gente quer se fundir com o outro. Para sempre. De corpo e alma. Perde totalmente o centro de gravidade. Transfere a moradia de seu ser para a casa do ser alheio. É como se vestisse a pele do outro. E se o outro disser assim: "Vai ali buscar aquela estrela ou mesmo a Lua" (como naquele lindo conto de Murilo Rubião chamado "Bárbara"), se o outro disser isto, a gente vai airosamente buscar o que ele quer.

E se o outro disser: "Não estou gostando do seu nariz", a gente opera, corta, joga fora, não só o nariz, mas qualquer outra coisa, porque nesse caso, qualquer palavra ou sugestão é ordem.

A paixão é boa?

A paixão é ruim?

Ninguém sabe. Ela acontece. Como certas tempestades, ela acontece. Assim como depois dos vendavais os elementos da natureza já não são os mesmos, ninguém será o que era depois do desvario da paixão.

Vidas renascem com a paixão.

Outras viram cinzas por causa dela.

E há pessoas que são como aquela ave mítica, a Fênix, vivem renascendo das cinzas da paixão.

Marx, portanto, errou completamente. Não é a luta de classe que move a história, é a paixão. Paixão é revolução a dois. Ela desafia o sistema. Diante dela a comunidade fica abalada. A paixão é anti-social, é egoísta, no que é diferente do amor maduro, longo e duradouro, que fecunda a vida dos amantes e reforça os laços da comunidade...
...

Existe diferença entre amor e paixão?

No amor, claro que há luminosa coabitação. Mas o amor é também paciente construção. Já a paixão é arrebatamento puro e aí a voragem é tão grande que pode tudo se esgotar de repente.
....

Há gente que vive se inventando paixões para viver, que vive morrendo de amor. E há gente que organiza toda sua vida em torno de uma única e consumidora paixão.

Paixão é transgressão...
...

A paixão tem cor. Mais que vermelha e rubra, é roxa. Pressupõe morte e ressurreição.

De paixão vivemos muito.

De paixão morremos sempre.
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domingo, 12 de outubro de 2008

domingo, 12 de outubro de 2008

Vôo Noturno - Antonio Juraci

Miró - O vôo de um pássaro rodeado por mulheres (1941)


Um dia desses publiquei um poema muito lindinho [pelo menos eu achei], de um poeta paraense. Ele é Antonio Juraci Siqueira, a poesia passada chama-se Arte Poética. Vou me valer da poesia dele novamente.



Sopro de Antonio Juraci

VÔO NOTURNO

Na fogueira da aurora eu me consumo
e ressuscito entre os lençóis da noite
para tecer meu ninho de discórdias
do teu coração.

A minha pena – faca de dois gumes –
ao mesmo tempo fere e acaricia;
as minhas asas - guarda-sóis se abertas,
quando fechadas, grades de prisão.

Trago nas veias sangue canibal:
bebo esperanças, mastigo ilusões
e, às vezes, sorvo sonhos matinais.

Portanto não se engane: sou poeta
em cujo peito dorme um troglodita
que traz no coração pluma e punhal.
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sábado, 11 de outubro de 2008

sábado, 11 de outubro de 2008

Continuando...

Como eu não tenho idéia para um novo post, vou aproveitar a última e deixar a música Esquadros da Adriana Calcanhoto, que menciona Frida Kahlo.

Aproveitem o sábado, a flor da semana (segundo Clarice)!

***

Eu ando pelo mundo
Prestando atenção em cores
Que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo
Cores!...
...
E como uma segunda pele
Um calo, uma casca
Uma cápsula protetora
Ai, Eu quero chegar antes
Prá sinalizar
O estar de cada coisa
Filtrar seus graus...
Eu ando pelo mundo
Divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome
Nos meninos que têm fome...
...

***

Sopro de Adriana Calcanhto


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sexta-feira, 10 de outubro de 2008

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Um obra de dor - Frida Kahlo



Sopro sobre Frida Kahlo

Ultimamente tenho buscado temas para postar aqui no blog, e nem sempre é fácil quando se está sempre correndo entre muitas coisas. Apesar disso, muitas idéias me fervilham, pois acima de tudo um blog é compartilhar impressões sob diversas formas. Já falei de poesia, música e até culinária. Mais diversificado impossível. Uma vez escrevi no Tagarelas sobre os meus “múltiplos interesses”, especialmente na literatura, artes plásticas e música. Pode ser uma forma de dizer que sou “relativamente” flexível no que se refere a essas áreas.

Nas minhas muitas incursões em livrarias, me deparei um dia com um livro intitulado Corpos Frágeis, Mulheres Poderosas (Ediouro), que contém curtas biografias de várias mulheres como Virginia Wolf, Billie Holiday, Maria Calas, Simone Weil, Frida Kahlo. O título me prendeu a atenção e tive que comprá-lo. O fio condutor que reuniu essas e outras mulheres no livro foi tragédias, amores tumultuados... em suma, dores da alma e do corpo.

Uma biografia que acho impressionante é a de Frida Kahlo, cuja obra me chamou atenção primariamente pelas cores fortes que imprimiu em suas telas. Não sei delimitar no tempo quando tomei contato com sua obra, mas depois veio o filme e só muito depois fui ler mesmo a respeito dela.

Frida nasceu em 6 de julho de 1907, em Coyacán, México. Em 1913 sofreu um ataque de poliomielite que afetou permanentemente a perna direita. Em 1925, ela e o namorado Alejandro Gómez Arias, são acidentados em um ônibus, ela foi atingida principalmente na coluna, bacia e pé.

Nos períodos em que passou no hospital e sempre que podia trocava correspondências com amigos, com seu médico e com seus amores. O principal, Diego Rivera, o pintor mexicano mais famoso da época. Essas cartas, ou algumas delas, foram publicadas em outro livro: Cartas apaixonadas de Frida Kahlo (José Olympio Editora). Em uma dessas cartas Frida escreve para Alex Arias:

Por que você estuda tanto? Que segredos procura? A vida logo os revelará a você. Eu já sei tudo, sem ler nem escrever. Faz pouco, talvez alguns dias, era uma menina que andava por um mundo de cores, de formas precisas e tangíveis. Tudo era misterioso e algo se ocultava; a adivinhação da natureza disso constituía um jogo para mim. Se você soubesse como é terrível alcançar o conhecimento de repente, como se um raio elucidasse a Terra!.

A relação dela com Diego Rivera também é cheia de perturbações. Uma história triste de fato, mas como diz o nome do livro uma mulher frágil sim, mas muito poderosa. Li em algum lugar certa vez que os quadros de Frida vertem sangue por todos os lados. Há quem goste, há quem desgoste. Faleceu em 13 de julho de 1954. E em um texto curto, que chamou de autobiografia, ela resume suas dores e diz que sua pintura preencheu sua vida e que trabalhar é o melhor.

Eu ia colocar todo, mas achei que já estava pesado demais para uma sexta-feira.

***
Tenham um lindo fim de semana, iluminado pelas cores mais brilhantes!
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quarta-feira, 8 de outubro de 2008

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Pensando o Poema do Cazuza

Gustav Klimt, Sea serpents IV

***


Sopro qualquer - Lassidão e abismo*


Acordou lentamente, sem abrir os olhos. Uma lassidão se interpôs ao seu desejo de levantar e caminhar ao sol, que naquele dia em particular reluzia lascivamente. Não conseguia concentrar o pensamento em uma idéia. Perguntou-se de onde viria aquele misto de torpor e aflição. Rapidamente uma lembrança tornou-se nítida, um rosto, uma boca, mãos e o passado retornando sem aviso, sem piedade. Há muito que havia varrido os sentimentos para um local escuro na mente. Um encontro inesperado, uma lanterna iluminando o subterrâneo de uma mina abandonada. Nada nela ansiava por despertar os sentimentos do passado. Arrefecida a loucura da paixão sangrenta, os sonhos foram apaziguados pela negligência em construir um amor sereno. Pavimentou seus dias com uma calmaria modesta, uma rotina morna, mas que agora, estranhamente lhe parecia medíocre. Apertou as pálpebras. Não, definitivamente não permitiria a interferência sorrateira dos encontros-desencontros, da fissura do amor destrutivo, que necessitava de espasmos de dor para realçar sua presença. Reteve em si um pouco mais do calor do leito, respirou profundamente, abriu os olhos e observou o rosto ao lado, que dormia sereno. Imaginariamente vislumbrou o sorriso - iluminado pela luz que refluía através do vidro da janela - e que lhe cobria de carinho mesmo ao longe. No fundo sabia que, se o passado ousava lhe lançar os tentáculos, os braços deste homem lhe seguravam para impedir a queda livre no precipício.

(*pensando no Poema do Cazuza - post anterior - "com desculpas ao poeta", por pensar em cima da sua criação um outro cenário).
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terça-feira, 7 de outubro de 2008

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Poema - Cazuza

Cena do Filme O fabuloso destino de Amélie Poulain

Uma palavra desencadeia outra - como puxar a ponta de fio numa trama de tricô. A memória desenovela lembranças e recupera outras palavras perdidas nos "escaninhos da mente".

Falei de Cazuza e lembrei de um poema-canção lindinha. Lembrei do Poema e lembrei do filme.
***

Sopro de Cazuza - Poema
Eu hoje tive um pesadelo e levantei atento a tempo
Eu acordei com medo e procurei no escuro

Alguém com seu carinho e lembrei de um tempo
Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa para um abraço ou um consolo
Hoje eu acordei com medo, mas não chorei
Nem reclamei abrigo
Do escuro eu via um infinito sem presente
Passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
era uma coisa sua que ficou em mim, que não tem fim
De repente a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua
Que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio, mas também bonito
Porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu
Há minutos atrás
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domingo, 5 de outubro de 2008

domingo, 5 de outubro de 2008

Nei Lisboa e Caetano Veloso - Pra te lembrar

Dia desses eu deixei um vídeo, com a intenção de mostrar a música do Nei Lisboa. Hoje - dia de votação! - vou deixar dois da música Pra te lembrar, do Nei. Ela fez parte da trilha sonora do filme Meu tio matou um cara, do Jorge Furtado.
Na trilha foi interpretada pelo Caetano Veloso. Como a-m-o a voz e músicas do Nei, peguei a música cantada pelos dois, assim dá para comparar as vozes.

Gosto da obra do Caetano, especialmente as músicas mais antigas, o último CD que ouvi dele achei muito chato.

Agora a interpretação do Nei, pra mim é ótima. Os vídeos são aqueles que a gente encontra no You Tube. Se tiverem um tempinho, deixem carregando, votem e voltem para ouvir os dois. :) Um pedacinho só, já dá pra comparar.
Bom domingo e na medida do possível bom voto!


Sopros de Nei Lisboa por ele mesmo



Sopros de Nei Lisboa por Caetano Veloso


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sábado, 4 de outubro de 2008

sábado, 4 de outubro de 2008

A poesia do Cerrado


Assim como outros lugares desse Brasilzão, o cerrado me encanta por sua resistência ao sol intenso. E as flores...a paciência com que aguardam o momento de surgir entre pedras, para pintar a paisagem monocromática. O cheiro parece de capim seco, mas com uma poesia própria, que aos olhos [e olfato] dos displicentes pode não sensibilizar ou emocionar. Como sou uma dura-emotiva por natureza, talvez me identifique com aquela beleza insólita.

Fui em busca de uma poetisa do cerrado e achei muito interessante os escritos de Angélica Torres Lima, nascida em Ipameri (Goiás).

Gostei de vários, mas escolhi dois - muitos para um post, não? E vou deixar o caminho para outras leituras. Se quiser, pode ir Aqui

***
Sopros de Angélica Lima


Meu Cerrado

Encho os olhos
de paisagens
do cerrado

Um espírito rendado
emana da floresta
de ikebanas goianas

A claridade rasgada
o plano exato:
geografia instantânea


***

Desesperança

Ele chega. Lê meus poemas.
Flerta meus livros
e discos como se
me tirando a roupa,
olhando meu corpo
detalhada
e suavemente

Acossada, excitada
erro em tudo o que faço.
Desato laços poéticos,
patético.
Represento um papel
em que minha assinatura
não parece fiel nem meu texto
o mais puro e o mais próximo
da nudez singela do sertão

Ele pensa que possui essa alma
nua. Ela sonha possuí-lo nu
e alma.
Mas o enredo concreto
transpassa em silêncio.
E o tempo passa
na ponta de um imenso lápis
riscando o calendário
dia após dia
de vento
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sexta-feira, 3 de outubro de 2008

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Silenciosos... e Clarice - novamente!


Sopro de Clarice Lispector - Muito mais simples

Pois se em vida é um calado, por que havia de escrever falando? Os calados só dizem o que precisam; e isso impede os outros de ouvirem? Trata-se de pessoa silenciosa; daí o ar hermético.

***
Gentileza Recebida


O Rodrigo Piva, do Blog Curiosando, me fez uma delicada gentileza oferecendo o selo chamado de Coração para Coração.

A idéia é repassar para outros blogs e o faço, mas deixo claro que fiquem a vontade para publicar ou não, não sintam-se obrigados, pois muitas vezes o blog não comporta os selos.

Blogs:







***
Respondi os comentários no halos anterior.






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quinta-feira, 2 de outubro de 2008

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Alguma consideração e Luis Fernando Veríssimo


Hoje estou meio "down" - como diria o Cazuza - e nem iria postar, mas voltei atrás na decisão. Entretanto vou falar de algo não tão leve quanto poesia.

E ainda lembrei que tenho que votar no domingo e pela primeira vez na vida não tenho vontade. Eu que sempre me orgulhei de ser uma cidadã razoável e participativa (sic). Para falar de assunto "pesado" como "conjuntura política, social e econômica", ouso emprestar uma crônica do Luis Fernando Veríssimo.

Ele dispensa comentários. A maioria dos que conheço gostam dos textos dele, mas já encontrei quem não. De qualquer forma gosto muito. Estou lendo - entre outros - seu último livro: O mundo é bárbaro e o que nós temos a ver com isso (Editora Objetiva) e é dele que vou "apanhar trechos" da crônica HUMILHAÇÂO, bem atual, se pensarmos entre o tempo presente e quanto leva para publicar um livro...

São trechos e uns "grifos" meus...certa vez uma pessoa comentou que eu não deveria grifar partes de um livro, para não influenciar a leitura do outro. Mas eu só faço isso nos meus livros! E juro que não mudei o sentido e o objetivo da crônica (creio eu!). Na verdade, são só relatos do que foi suprimido.

***
Sopro de Luis Fernando Veríssimo - Humilhação

Nosso tamanho nos torna megalomaníacos natos. Não sabemos pensar no Brasil a não ser em superlativos. Somos amazônicos tanto nas nossas vaidades quanto nos nossos remorsos. Assim, a Arena, o braço desarmado do poder militar, podia dizer que era o maior partido do mundo porque, em números, era mesmo, tantos foram os políticos que a integraram naquela democracia de faz-de-conta...

(aqui ele também faz uma crítica ao MDB, para depois continuar comentando sobre a nossa megalomania, assim:)

...Depois, com o fim do regime militar, o voto obrigatório nos autorizou a dizer que éramos, em proporção à população, a maior democracia de verdade em funcionamento no mundo. E o que sentiamos ao descrever nossas mazelas gigantescas só pode ser descrito como orgulho desvairado, quase uma forma de ufanismo. Nenhum outro país é tão corrupto quanto o nosso. E estamos sempre superando nossas marca...

(e fala sobre os escândalos, já nem tão recentes, no país e eu não vou repeti-los)

...Não quero desiludir ninguém, mas eu estava lendo uma matéria no New York Times sobre superfaturamentos, custos fictícios e outras falcatruas de empresas americanas contratadas para reconstruir o Iraque, e, à medida que lia, minha megalomanis murchava. Até nisso eles nos humilham...

...Mesmo com os bilhões de dólares gastos e roubados, e alguns anos depois da queda do Saddam, ainda não conseguiram restabelecer completamente a eletricidade no país...

(então refere-se a citação do Times, sobre a reconstrução de um hospital infantil em Basra, cujo prazo venceu, o custo multiplicou várias vezes e não foi acabado)

...E o pior para o nosso ego é que, com tudo isso, você não ouve os americanos dizerem que são os mais corruptos do mundo. Ainda por cima nos arrasam com sua modéstia.

(alguém ai ouviu falar numa tal de crise econômica, financeira?)
Então tá, e o que eu tenho a ver com isso? Vou votar no domingo, com bom ou mau humor. Prometo - aos poucos, mas fiéis amigos que me visitam - que na próxima volto a falar de poesias e coisas amenas.
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quarta-feira, 1 de outubro de 2008

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Busca: a minha e ... A procura de Mário Quintana

Diana e Aktaion - Balthasar Beschey (1708-1776)


Meu sonho, meu desejo, minha busca - eterna busca. Nem sei o que procuro, nem sei se procuro, mas minha ânsia de novidade me deixa perplexa e atônita na leitura - mas também me complementa. Tenho hábito de dizer que o quê me move é o que me emociona.

Vou, volto e retorno e retornarei sempre para meus escritores preferidos, que me emocionam. Ré confessa - do pouco tempo disponível para escrever aqui no blog - pois ando fazendo mil coisas ao mesmo tempo.


Em sendo assim, vamos ao Quintana novamente. Só um sopro, de um escritor especialista em soprar poesia. E quem há de negar que já não desdenhou da caça?...Independente dela...





***
Sopro de Mário Quintana

Só o desejo inquieto, que não passa,


Faz o encanto da coisa desejada...


E terminamos desdenhando a caça


Pela doida aventura da caçada.


(Da eterna procura)
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