quinta-feira, 2 de outubro de 2008

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Alguma consideração e Luis Fernando Veríssimo


Hoje estou meio "down" - como diria o Cazuza - e nem iria postar, mas voltei atrás na decisão. Entretanto vou falar de algo não tão leve quanto poesia.

E ainda lembrei que tenho que votar no domingo e pela primeira vez na vida não tenho vontade. Eu que sempre me orgulhei de ser uma cidadã razoável e participativa (sic). Para falar de assunto "pesado" como "conjuntura política, social e econômica", ouso emprestar uma crônica do Luis Fernando Veríssimo.

Ele dispensa comentários. A maioria dos que conheço gostam dos textos dele, mas já encontrei quem não. De qualquer forma gosto muito. Estou lendo - entre outros - seu último livro: O mundo é bárbaro e o que nós temos a ver com isso (Editora Objetiva) e é dele que vou "apanhar trechos" da crônica HUMILHAÇÂO, bem atual, se pensarmos entre o tempo presente e quanto leva para publicar um livro...

São trechos e uns "grifos" meus...certa vez uma pessoa comentou que eu não deveria grifar partes de um livro, para não influenciar a leitura do outro. Mas eu só faço isso nos meus livros! E juro que não mudei o sentido e o objetivo da crônica (creio eu!). Na verdade, são só relatos do que foi suprimido.

***
Sopro de Luis Fernando Veríssimo - Humilhação

Nosso tamanho nos torna megalomaníacos natos. Não sabemos pensar no Brasil a não ser em superlativos. Somos amazônicos tanto nas nossas vaidades quanto nos nossos remorsos. Assim, a Arena, o braço desarmado do poder militar, podia dizer que era o maior partido do mundo porque, em números, era mesmo, tantos foram os políticos que a integraram naquela democracia de faz-de-conta...

(aqui ele também faz uma crítica ao MDB, para depois continuar comentando sobre a nossa megalomania, assim:)

...Depois, com o fim do regime militar, o voto obrigatório nos autorizou a dizer que éramos, em proporção à população, a maior democracia de verdade em funcionamento no mundo. E o que sentiamos ao descrever nossas mazelas gigantescas só pode ser descrito como orgulho desvairado, quase uma forma de ufanismo. Nenhum outro país é tão corrupto quanto o nosso. E estamos sempre superando nossas marca...

(e fala sobre os escândalos, já nem tão recentes, no país e eu não vou repeti-los)

...Não quero desiludir ninguém, mas eu estava lendo uma matéria no New York Times sobre superfaturamentos, custos fictícios e outras falcatruas de empresas americanas contratadas para reconstruir o Iraque, e, à medida que lia, minha megalomanis murchava. Até nisso eles nos humilham...

...Mesmo com os bilhões de dólares gastos e roubados, e alguns anos depois da queda do Saddam, ainda não conseguiram restabelecer completamente a eletricidade no país...

(então refere-se a citação do Times, sobre a reconstrução de um hospital infantil em Basra, cujo prazo venceu, o custo multiplicou várias vezes e não foi acabado)

...E o pior para o nosso ego é que, com tudo isso, você não ouve os americanos dizerem que são os mais corruptos do mundo. Ainda por cima nos arrasam com sua modéstia.

(alguém ai ouviu falar numa tal de crise econômica, financeira?)
Então tá, e o que eu tenho a ver com isso? Vou votar no domingo, com bom ou mau humor. Prometo - aos poucos, mas fiéis amigos que me visitam - que na próxima volto a falar de poesias e coisas amenas.