quinta-feira, 16 de outubro de 2008

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Insustentável leveza

Pôster do filme A insustentável leveza do ser

O ato de escrever é algo curioso – não sei se era “curioso” mesmo que eu queria dizer, minhas poucas palavras não sabem se expressar. Já disse e me repito sempre, que os textos por aqui se escolhem e tudo vai dependendo do meu estado de espírito. É uma repetição, também, dizer que um tema revela outro e todos juntos montam o quebra-cabeça da memória.

O primeiro motivo do post de hoje – meio preguiçoso – foi um poema de Emily Dickinson. Entretanto ao ler e reler, ele me remeteu ao livro do Milan Kundera [A insustentável leveza do ser], que li há muito tempo e que muito me impressionou. No meu quebra-cabeça interno, eles se complementaram e gritaram em uníssono para aqui estarem juntos. Eu não lutei contra.

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Sopro de Milan Kundera

“Para Sabina, viver significa ver. A visão encontra-se limitada por duas fronteiras: Uma luz de tal modo intensa que nos cega e uma obscuridade total. Talvez seja daí que lhe vem a repugnância por todos os extremismos. Os extremos marcam a fronteira para lá da qual não há vida, e, tanto em arte como em política, a paixão do extremismo é um desejo de morte disfarçado."

“O mais pesado dos fardos nos esmaga, verga-nos, comprime-nos contra o chão...Quanto mais pesado é o fardo, mais próxima da terra está nossa vida, e mais real e verdadeira ela é. Em compensação, a ausência total de fardo leva o ser humano a se tornar mais leve do que o ar, leva-o a voar, a se distanciar da terra, do ser terrestre, a se tornar semi-real, e leva seus movimentos a ser tão livres como insignificantes. O que escolher então? O peso ou a leveza?"


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Sopro de Emily Dickinson

A separação por longos anos não cava
Brecha que em instantes não se preencha;
A ausência da feiticeira
Não invalida o encantamento

As milenares cinzas
Remexidas pela mão,
Que as atiçou quando eram chama,
Haverão de acordar e compreenderão