sábado, 4 de outubro de 2008

sábado, 4 de outubro de 2008

A poesia do Cerrado


Assim como outros lugares desse Brasilzão, o cerrado me encanta por sua resistência ao sol intenso. E as flores...a paciência com que aguardam o momento de surgir entre pedras, para pintar a paisagem monocromática. O cheiro parece de capim seco, mas com uma poesia própria, que aos olhos [e olfato] dos displicentes pode não sensibilizar ou emocionar. Como sou uma dura-emotiva por natureza, talvez me identifique com aquela beleza insólita.

Fui em busca de uma poetisa do cerrado e achei muito interessante os escritos de Angélica Torres Lima, nascida em Ipameri (Goiás).

Gostei de vários, mas escolhi dois - muitos para um post, não? E vou deixar o caminho para outras leituras. Se quiser, pode ir Aqui

***
Sopros de Angélica Lima


Meu Cerrado

Encho os olhos
de paisagens
do cerrado

Um espírito rendado
emana da floresta
de ikebanas goianas

A claridade rasgada
o plano exato:
geografia instantânea


***

Desesperança

Ele chega. Lê meus poemas.
Flerta meus livros
e discos como se
me tirando a roupa,
olhando meu corpo
detalhada
e suavemente

Acossada, excitada
erro em tudo o que faço.
Desato laços poéticos,
patético.
Represento um papel
em que minha assinatura
não parece fiel nem meu texto
o mais puro e o mais próximo
da nudez singela do sertão

Ele pensa que possui essa alma
nua. Ela sonha possuí-lo nu
e alma.
Mas o enredo concreto
transpassa em silêncio.
E o tempo passa
na ponta de um imenso lápis
riscando o calendário
dia após dia
de vento