quinta-feira, 23 de outubro de 2008

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Lisboa revisitada

Lisboa - Torre de Belém - Rio Tejo


Outro dia – muitos – fiz um post curtinho, que chamei de Um pouco da alma portuguesa - sopros de Lisboa. Tinha foto, tinha canção com Dulce Ponte e poema de Pessoa. E lá eu dizia que tenho em mim um pouco da melancolia da alma portuguesa. Nada demais, pois rememorando Adélia Prado aqui: dor não é amargura... minha tristeza não tem pedigree, já minha vontade de alegria, sua raiz vai ao meu mil avô.

De qualquer maneira, os dias têm sido estranhos: trabalho, cansaço, lerdeza. Sabem quando tudo é slow motion? [não resisti ao termo em inglês]. Muito lento mesmo e em situações assim é muito mais certo que se fique um pouco mais pensativo, viajando, querendo estar em outro lugar. E talvez seja por isso que só tenho escolhido escritos mais reflexivos. Tenho comigo que não devo estimular a minha alma portuguesa, pois caso contrário ela pode me dominar – o lado... meio... melancólico.

Enfim, o preâmbulo foi para justificar o título [que furtei novamente], que é de um/dois poema(s) de Pessoa (Álvaro Campos). Que, aliás, adoro como praticamente tudo dele (não, não quero nada/já disse que não quero nada - 1923 ou nada me prende a nada/quero cinqüenta coisas ao mesmo tempo - 1926...).

Voltando: o título sugere que quero retornar ao tema da alma portuguesa.

Hoje, por acaso, li o poema, intitulado Lisboa, de uma cearense chamada Virna Teixeira. Uma escritora-poeta-médica, daquelas que escreve curtinho e deixa a nossa imaginação correr solta. A minha anda louca para sair voando, então resolvi revisitar Lisboa, e a música portuguesa. Primeira lembrança foi o Madredeus. Mas em seguida me veio um fado, que o Caetano Veloso gravou e encontrei na voz da Dulce Ponte. Madredeus virá em outro momento. O nome da música é Estranha Forma de Vida, é triste, eu gosto, mas – ouso dizer – me divirto um pouco com algumas expressões. Vou deixar a letra também, pois tem pessoas que não conseguem ouvir a música do blog.


***

Letra: Foi por vontade Deus

Foi por vontade de Deus
que eu vivo nesta ansiedade.
Que todos os ais são meus,
Que é toda a minha saudade.
Foi por vontade de Deus.
Que estranha forma de vida
tem este meu coração:
vive de forma perdida;
Quem lhe daria o condão?
Que estranha forma de vida.
Coração independente,
coração que não comando:
vive perdido entre a gente,
teimosamente sangrando,
coração independente.
Eu não te acompanho mais:
para, deixa de bater.
Se não sabes aonde vais,
porque teimas em correr,
eu não te acompanho mais.
(Alfredo Duarte/Amália Rodrigues)


***

Sopro de Virna Teixeira : Lisboa

Os pés
caminham,
molhados
entre óculos
analíticos e
gabardinas
pela ladeira
a chuva
escoa
saudade
mágoas