quinta-feira, 28 de maio de 2009

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Enquanto Maio...Poesia de Hilda Hilst

Imagem: Lover Tree - Jia Lu


Maio está quase chegando ao fim. O tempo passa voando mesmo. Há dias que acho isso ruim e em outros que nem tanto. Mas enquanto o fim de maio não chega, vou mostrar mais uma poesia “feminina”.

Desta vez escolhi Hilda Hilst. Desde que li os poemas de Hilda no livro Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão, encantei-me por sua poesia. Não creio que seja necessário apresentá-la, mas vai que tem alguém que não a conhece?

Hilda Hilst nasceu em Jaú (SP) em 21 de abril de 1930 e morou desde 1965 na chácara Casa do Sol, em Campinas (SP). (Creio que tenha sido nessa chácara que Caio Fernando Abreu - já falei do Caio AQUI - se refugiou da ditadura militar). Ela formou-se em Direito pela USP e desde 1954 se dedicou à literatura. Considerada um dos principais nomes da literatura brasileira contemporânea. Faleceu em 4 de fevereiro de 2004.

O poema que vou mostrar faz parte do livro que citei acima e consta do capitulo Prelúdios - intensos para os desmemoriados do amor. Como de hábito li vários para escolher, mas como costumava dizer aqui no blog, eu não tenho escolhido poesias, trechos e autores. Eles se escolhem, pela forma impactante com que me atravessam a alma. Fico encantada e meio presa num visgo, não tendo como fugir dela(e)s.

Então, ao poema de Hilda!


***


I


Toma-me. A tua boca de linho sobre a minha boca
Austera. Toma-me AGORA, ANTES
Antes que a carnadura se desfaça em sangue, antes
Da morte, amor, da minha morte, toma-me
Crava a tua mão, respira meu sopro, deglute
Em cadência minha escura agonia.

Tempo do corpo este tempo, da fome
Do de dentro. Corpo se conhecendo, lento
Um sol de diamante alimentando o ventre.
O leite da tua carne, a minha
Fugidia.
E sobre nós este tempo futuro urdindo
Urdindo a grande teia. Sobre nós a vida
A vida se derramando. Cíclica. Escorrendo.

Te descobres vivo sob um jugo novo.
Te ordenas. E eu deliquescida: amor, amor,
Antes do muro, antes da terra, devo
Devo gritar a minha palavra, uma encantada
Ilharga
Na cálida textura de um rochedo. Devo gritar
Digo para mim mesma. Mas ao teu lado me estendo
Imensa. De púrpura. De prata. De delicadeza.


[Prelúdios - intensos para os desmemoriados do amor – Poema I – Hilda Hilst]
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quinta-feira, 21 de maio de 2009

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Viagem no vento

Ophelia - John William Waterhouse - 1905

Se pudesse ser o vento, viajaria agora ao teu encontro.

Te buscava por todos os cantos.

E ao te encontrar, acariciava teu rosto com leve brisa,

depois, mais forte, atravessava tuas vestes,

para alcançar tua pele,

e deixar em ti, o frio da minha ausência.

Só então seguiria viagem,

Até adormecer solitária em qualquer (c)(m)anto.

*****
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domingo, 17 de maio de 2009

domingo, 17 de maio de 2009

A poesia do encontro – Elisa Lucinda, Rubem Alves e mais Cecília Meireles

Peter Ilsted - A Girl Reading in an Interiror



Título alternativo: Um encontro de amigos

O título do post tem vários significados. Primeiro é o título de um livro. Estava procurando uma poesia – de uma poetisa – e acabei relendo algumas autoras e muitos poemas (como é bom ler poesia!).

Buscando meus livros, lembrei que tinha comprado um livro no aeroporto de Brasília, ano passado (acho). O livro chama-se Poesia do Encontro. É uma “conversa” sobre poesia entre Elisa Lucinda e Rubem Alves.

Elisa Lucinda é poetisa, atriz e cantora. Rubem Alves é um escritor de crônicas e histórias infantis. O interessante desse livro, é que eles vão conversando e lembrando poesias. Elisa criou, no Rio de Janeiro, a Casa do Poema e ensina interpretação de poesia. O lema lá é: “falando poesia sem ser chato”. Ela faz oficinas pelo Brasil e conta histórias interessantes de sua experiência. Dá vontade de “declamar poesia” junto com eles. Sem falar que, ainda contam as histórias de alguns poemas famosos e recitam.

Segundo: me lembrei deste livro, pois foi lá que reli um poema do Millôr Fernandes, chamado Poesia Matemática. E surgiu o poema na mente, por causa do Amarísio, amigo que encontrei aqui no blog, professor de matemática, que fez aniversário este mês. Desta vez não vou postar o poema, pois minha intenção é continuar com as meninas poetas. Vou deixar para outra oportunidade, mas recomendo o livro de Rubem e Elisa.

Seguindo a busca por um poema, li muitos esses dias, pois queria encontrar um especial. O problema é que todos os que li me pareciam especiais. Li Adélia Prado, Emily Dickinson, Florbela Espanca, Hilda Hilst...Não li Clarice, pois é um perigo. Li Cecília Meireles e optei por ela, mas mesmo escolhendo a poetisa, mais difícil é selecionar o poema. São tantos e tão lindos. Pudesse postava todos que me gritaram mais alto à alma. Fiquei com Canção do Caminho, querendo muitos outros. Vamos a ele!


***

Canção do Caminho - Cecília Meireles


Por aqui vou sem programa,
sem rumo,
sem nenhum itinerário.

O destino de quem ama
é vário,
como o trajeto do fumo.

Minha canção vai comigo.
Vai doce.
Tão sereno é seu compasso
que penso em ti, meu amigo.
- Se fosse,
em vez da canção, teu braço!

Ah! Mas logo ali adiante
- tão perto! –
acaba-se a terra bela.
Para este pequeno instante,
decerto,
é melhor ir só com ela.

(Isso são coisas que digo,
que invento,
para achar a vida boa...
A canção que vai comigo
é a forma de esquecimento
do sonho sonhado à toa...)

***
[Post dedicado ao Amarísio - Blog Recanto dos Sonhos]
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terça-feira, 12 de maio de 2009

terça-feira, 12 de maio de 2009

Virando a página e poesia de Emily Dickinson

Peguei na internet

A metáfora é antiga: a vida é como um livro aberto. E alguns ainda fazem alguma brincadeira, dizendo que a vida é um livro aberto com algumas páginas arrancadas, enfim, é uma imagem interessante, visualizar-nos escrevendo a história da nossa existência!

Queria virar a página e mesmo com muitas atribulações por aqui, pouco tempo, cansaço, resolvi mudar de assunto, mas ainda permanecer com poesia.

Quando fui procurar a imagem de um “livro aberto” na rede, achei esse e mais uma frase, atribuída ao Saramago e resolvi colocar aqui, pois me pareceu apropriado (apropriado a quê?! a tudo!!!). Diz o seguinte: "É ainda possível chorar sobre as páginas de um livro, mas não se pode derramar lágrimas sobre um disco rígido”. Sem mais comentários, volto o meu barco para o rumo que eu ia dar, antes de encontrar a frase.

Como o mês de maio é conhecido como o mês das mães, das noivas, de Maria (estudei em colégio de freiras, mês de maio era mês de muita reza), é um mês de mulheres. Por essa razão, este mês, quando eu atualizar o blog, vou postar poesias de mulheres. Nenhuma referência a feminismo - por favor - só quero sentir e compartilhar o pulsar, o olhar, as referências de mulheres que escrevem coisas belas, como foi o caso do poema da Adélia. Por agora, viro a página e encontro Emily Dickinson.


***

À noite, como deve sentir-se solitário o vento
Quando todos apagam a luz
E quem possui um abrigo
Fecha a janela e vai dormir

Ao meio-dia, como deve sentir-se imponente o vento
Ao pisar em incorpórea música,
Corrigindo erros do firmamento
E limpando a cena.

Pela manhã, como deve sentir-se poderoso o vento
Ao se deter em mil auroras,
Desposando cada uma, rejeitando todas
E voando para seu esguio templo, depois.

[Emily Dickinson]
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domingo, 10 de maio de 2009

domingo, 10 de maio de 2009

Mais uma consideração e Adélia Prado

Serenata - peguei na internet

Tem horas que sinto vontade de vir aqui e atualizar o blog, mas acho que esgotei todas as palavras, que não são muitas. Tem horas que tenho vontade de dar um tempo para ele (o blog) e para mim (e para os leitores também), mas confesso que não tenho muita coragem. Tenho um apego meio exagerado por determinadas coisas e determinadas pessoas (digo isso, por que o apego não é aquele apego material e dizendo assim pode parecer!). Essas primeiras palavras são o reflexo do meu humor, nada interessante por esses dias (e não é TPM!).

Mas resolvi atualizar, só para atualizar. E resgatando um pouco do que era o blog um tempo atrás (antes de eu inventar de escrever!) vou me socorrer com versos de outros. No caso, outra, Adélia Prado. Fui escolher um poema dela e é tanta coisa linda que dá vontade de colocar todos por aqui.

***
Sopro de Adélia Prado – A serenata

Uma noite de lua pálida e gerânios
ele viria com boca e mãos incríveis
tocar flauta no jardim.
Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.
Eu que rejeito e exprobo
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos
a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier, porque é certo que vem,
De que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
- só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela, se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?
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sexta-feira, 1 de maio de 2009

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Estrelas no pensamento

EMBRACE - Jia Lu [Pintora chinesa] - Se quiser ver mais AQUI


Olhe, veja em volta. É noite, nenhuma luz acesa, a lua crescente se escondeu atrás da única nuvem e apesar disso, à nossa volta tudo brilha. São tantas estrelas salpicando o céu, que parece uma chuva de purpurina. Como no dia que olhávamos os fogos de artifício sobre nossas cabeças e seguraste minha mão gelada. O sopro de vento que despenteou meus cabelos e fez minhas roupas levitarem suavemente, produziu um arrepio na minha pele, mas o calor morno dos teus dedos, apertando suavemente os meus, acendeu um carinho que inundou meu corpo inteiro.

Foram dias felizes, mas fulgazes. Queria te ter sempre ao meu lado, segurando e aquecendo minhas mãos. De lá até aqui, nossos dias foram de encontros e afastamentos, nossos caminhos não se encontravam, mesmo que eu sempre buscasse formas de ter ver, te ter, te sentir. No meu peito sempre pulsava um bem querer, que alimentava a esperança de um encontro definitivo. Nos meus dias, pintava na imaginação o momento que, enfim, seríamos dois e não um em cada lugar. A pintura desse sonho, gravada na memória, tinha o brilho desta noite estrelada.

Hoje, o som das ondas - atirando-se insensatas contra o rochedo - é a única canção que conseguimos ouvir e o teu corpo o único cobertor que quero sentir envolver a nudez do meu. Levarei para a eternidade o sabor do teu beijo e o calor que agora me faz estremecer, ao olhar teus olhos sonolentos. Se eu dormir, quero sonhar que tudo vai permanecer assim, para sempre.
***
Não sou escritora, apesar de não poder negar a pretensão, já que fico escrevendo "coisas" aqui no blog. O texto acima, apesar de estar na primeira pessoa, não é uma "experiência pessoal", e sim um simples exercício de escrita e ficção.
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