terça-feira, 21 de outubro de 2008

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Coragem e Covardia segundo Clarice

Paul Klee - Paysage aux oiseaux jaunes

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Toda vez que, por um motivo ou outro, me perco e não tenho o que dizer, tudo que penso em escrever já foi escrito. Tudo que me vai à “alma” a Clarice Lispector escreveu. Posso fazer absolutamente nada sobre isso! Resigno-me e coloco algo dela...e...vamos:

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Sopro de Clarice - Paul Klee

Se eu me demorar demais olhando Paysage aux oiseaux jaunes, de Klee, nunca mais poderei voltar atrás. Coragem e covardia são um jogo que se joga a cada instante. Assusta a visão irremediável e que talvez seja a da liberdade. O hábito de olhar através das grades da prisão, o conforto de segurar com as duas mãos as barras, enquanto olho. A prisão é a segurança, as barras o apoio para as mãos. Então reconheço que a liberdade é só para uns poucos. De novo coragem e covardia se jogaram: minha coragem, inteiramente possível, me amedronta. Pois sei que minha coragem é possível. Começo então a pensar que entre os loucos há os que não são loucos. É que a possibilidade, que é verdadeiramente realizada, não pode ser entendida. E à medida que a pessoa quiser explicar, ela estará perdendo a coragem, ela já estará pedindo; Paysage aux oiseaux jaunes não pede. Pelo menos calculo o que seria liberdade. E é isso o que torna intolerável a segurança das grades; o conforto desta prisão me bate na cara. Tudo o que eu tenho aguentado - só para não ser livre...