domingo, 15 de maio de 2011

domingo, 15 de maio de 2011

Pôr de son(h)o


**
O pôr do sol visto através da janela do avião parecia anunciar um incêndio no além. Não pensar era o objetivo da viagem, mas ao mirar o horizonte, um pensamento lhe vem à cabeça: “para o além deste infinito há um fogo para acender a vida que se fez cansada e apagou sem deixar brasa”. Nas cinzas mornas que ficaram juntas, o prenúncio de que nem tudo estava perdido, afinal elas não se espalharam ou se perderam quando aquele vento soprou. A viagem seria longa e, portanto demorada, mas o sol que tingia o horizonte - de maneira tão singular - imprimiu uma sensação de paz que não saberia explicar. E a sensação se infiltrou na alma, como a água derramada sobre a folha do papel: você virá um dia. Subverterá a calmaria do azul, com seus tons quentes de laranja e vermelho? Virá e ultrapassará as nuvens carregadas de dores melancólicas para pousar no chão da sala, esparramando a poesia que ficou enclausurada? Era certeza e era dúvida. Por fim conformou-se que não veria impresso na lua - que surgiu ao escurecer - o rosto sorridente que lhe fazia pulsar nas remotas noites invernais, pois este sim, o verão tinha carregado naquele sopro quente. Se tudo não foi sonho, foi o sono que lhe fez alucinar. Aguardou o momento de libertar-se das palavras que se comprimiam no peito e deixavam a existência sem as temperaturas e as cores do outono que apreciava e acalmavam.

**
A imagem peguei na internet - sem autoria
Continue Lendo »