quarta-feira, 21 de abril de 2010

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Imagens e melancolias

Os dias são quentes e os sabores se perderam numa sensação de “sem-paladar”.


As imagens embaralham e me curvo no cansaço dos dias sem fim.


Os dias não tem fim e os pensamentos são como passos largos, correndo.


As passadas são mais longas e paralisam-me num suor de febre sem calor,


O calor que molha, mas não encharca o suficiente para lavar as saudades que insistem em enlouquecer.


Os sons prometem luz para dias que mostram sorrisos sempre pálidos.


Grito num cano de esgoto esquecido na rua - no mesmo cano que o homem sentou para fazer a fotografia -
e todos os monstros que adormeceram dentro de mim saem e deixam um buraco no meu peito.

Aspiro o ar profundamente na tentativa de recompor meu ser e seguir na ponta da vida,


Que nem se importa com aquele sentimento de profunda solidão que tomou conta do meio do meu dia, quando todos sorriam do outro lado.
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Sobre a imagem: peguei no Google Imagens, se souber autoria me avise nos comentários.
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sexta-feira, 9 de abril de 2010

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Tangida pela vida

John William Waterhouse - Ophelia


E se assim vivi,

pois é assim que se vive

quando nem se tange a vida,

e dormi, sobretudo quando me atordoava

a fúria louca da busca,

que entrelaça meu querer

num pulsar completamente

estranho

correndo e navegando

voltando e mergulhando

num sopro sôfrego

que inala verões findos

que levaram um amor

de papel marchê
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sábado, 3 de abril de 2010

sábado, 3 de abril de 2010

Reminiscencia de verão

Imagem da internet


Título alternativo: Febre em noite clara.

Noite clara e quente. A lua, em sua face mais brilhante, se enchia luminosa. Os barulhos silenciosos preenchiam a madrugada. Um ou outro som de motor, do solitário veículo e seu motorista, que rodavam na noite em busca de consolo para sua alma angustiada. Era verão e como de hábito, todos escapavam para se refugiar junto ao mar, no litoral. A cidade era dos errantes, dos solitários, dos melancólicos, dos perdidos, dos desprovidos. Mas também era o momento de aproveitá-la na sua plenitude.

Rolava na cama sem conseguir dormir, tentado identificar os silenciosos ruídos. Em vão, pois a cada tentativa, menos audível ficavam. Somente os sons da sua própria mente é que gritavam alto e a impediam de descansar. Resolveu tomar uma ducha fria, que talvez espantasse o calor e seus fantasmas para o além. Deitou o corpo molhado na cama e tentou adormecer. A lua invadiu o quarto com sua luz, penetrando pela fresta da cortina, que fechara para simular uma privacidade solitária que não almejava.

A luz fria e branca fez com que se sentisse acompanhada. A lua – diziam – era companhia dos loucos, dos poetas e solitários. Talvez tenha sonhado, mas era bem possível que estivesse mesmo era enlouquecendo, pois sentiu a presença de um ser se materializando naquele instante. A lua pareceu como um ente com quem podia conversar e falar sobre suas angústias, sobre os gritos que atormentavam sua mente solitária. Por quanto tempo teria ficado ali, deitada e sentindo o feixe branco como se fosse uma deusa que pudesse realizar seus desejos? Não poderia quantificar, somente se deixou ficar e nem o calor mais a incomodava.
Conversou com a lua e fez um pacto: ela lhe traria o amor com o qual sonhara, que alimentaria sua alma e se banharia no seu corpo. Corpo e alma preenchidos por esse amor, navegaria pelos mares calmos ou agitados da existencia, sem temer a solidão que outrora lhe afligira. Em troca contemplaria a lua em todas as suas fases, pois é verdade que o astro estaria no céu a fitá-la com generosidade, mesmo quando só mostrava sua face escura e todos os seres esqueciam sua existencia.

Não sentiu-se adormecer, mas ao abriu os olhos já existiam ruídos e uma efervescencia no ar. As crianças da vizinhança gritavam e riam festivamente na rua. Levantou ainda tonta da cama e foi à janela espiar. Era dia e chovia. A correria barulhenta e a energia que emanava lá debaixo enfim sossegou sua alma. Olhou para céu buscando a lua, somente por sabê-la no infinito. Vestiu uma roupa e desceu para tomar banho de chuva. Correu e gritou e brincou com os pequenos, sentindo momentaneamente que a solidão se esvaia e sua febre cedia.
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