sábado, 3 de abril de 2010

sábado, 3 de abril de 2010

Reminiscencia de verão

Imagem da internet


Título alternativo: Febre em noite clara.

Noite clara e quente. A lua, em sua face mais brilhante, se enchia luminosa. Os barulhos silenciosos preenchiam a madrugada. Um ou outro som de motor, do solitário veículo e seu motorista, que rodavam na noite em busca de consolo para sua alma angustiada. Era verão e como de hábito, todos escapavam para se refugiar junto ao mar, no litoral. A cidade era dos errantes, dos solitários, dos melancólicos, dos perdidos, dos desprovidos. Mas também era o momento de aproveitá-la na sua plenitude.

Rolava na cama sem conseguir dormir, tentado identificar os silenciosos ruídos. Em vão, pois a cada tentativa, menos audível ficavam. Somente os sons da sua própria mente é que gritavam alto e a impediam de descansar. Resolveu tomar uma ducha fria, que talvez espantasse o calor e seus fantasmas para o além. Deitou o corpo molhado na cama e tentou adormecer. A lua invadiu o quarto com sua luz, penetrando pela fresta da cortina, que fechara para simular uma privacidade solitária que não almejava.

A luz fria e branca fez com que se sentisse acompanhada. A lua – diziam – era companhia dos loucos, dos poetas e solitários. Talvez tenha sonhado, mas era bem possível que estivesse mesmo era enlouquecendo, pois sentiu a presença de um ser se materializando naquele instante. A lua pareceu como um ente com quem podia conversar e falar sobre suas angústias, sobre os gritos que atormentavam sua mente solitária. Por quanto tempo teria ficado ali, deitada e sentindo o feixe branco como se fosse uma deusa que pudesse realizar seus desejos? Não poderia quantificar, somente se deixou ficar e nem o calor mais a incomodava.
Conversou com a lua e fez um pacto: ela lhe traria o amor com o qual sonhara, que alimentaria sua alma e se banharia no seu corpo. Corpo e alma preenchidos por esse amor, navegaria pelos mares calmos ou agitados da existencia, sem temer a solidão que outrora lhe afligira. Em troca contemplaria a lua em todas as suas fases, pois é verdade que o astro estaria no céu a fitá-la com generosidade, mesmo quando só mostrava sua face escura e todos os seres esqueciam sua existencia.

Não sentiu-se adormecer, mas ao abriu os olhos já existiam ruídos e uma efervescencia no ar. As crianças da vizinhança gritavam e riam festivamente na rua. Levantou ainda tonta da cama e foi à janela espiar. Era dia e chovia. A correria barulhenta e a energia que emanava lá debaixo enfim sossegou sua alma. Olhou para céu buscando a lua, somente por sabê-la no infinito. Vestiu uma roupa e desceu para tomar banho de chuva. Correu e gritou e brincou com os pequenos, sentindo momentaneamente que a solidão se esvaia e sua febre cedia.