Outro dia comentei sobre o livro Doidas e Santas da Martha Medeiros. Já faz um tempo que ando saudosa. Saudades gerais e irrestritas, sabe como é? Saudade de pessoas minhas, de lugares, de viagens que fiz. Há momentos que ela chega mais forte, mas em geral suportável. Até poderia escrever um pouco mais sobre o assunto, mas resolvi emprestar um pedaço da crônica da Martha para esse momento.
Não vou de forma alguma transcrever todo o texto, mas vou "pescar" um pedacinho para uma leitura rápida. E ela fala com a propriedade de uma grande escritora que é, por isso vamos à ela.
A saudade não tem nada de trivial. Interfere em nossa vida de um modo às vezes sereno, às vezes não. É um sentimento bem-vindo, pois confirma de quem é ou foi importante para nós, e é ao mesmo tempo um sentimento incômodo, porque acusa a ausência, e os ausentes sempre nos doem.
Por sorte, é relativamente fácil exterminar a saudade de quase tudo e de quase todos, simplesmente pegando o telefone e ouvindo a voz de quem nos faz falta ou indo ao encontro dessa pessoa. Ou daquele lugar que ficou na memória: uma cidade, uma antiga casa. Uma saudade do sabor de uma comida, de um cheiro do passado, de um abraço...(Martha Medeiros).
Está certo, se você pensou em uma saudade que não é possível abrandar, o objetivo dela era mesmo falar dessa saudade, mas não é bem o meu objetivo no momento.
E voltando na direção que queria e a propósito de odores e sabores, esses dias eu caminhava por minha rua e me venho um cheiro de infância, como se eu tivesse sido transportada no tempo. Sinto perfumes, cheiro de fumaça, odores de comidas da casa de mãe. Tenho muito dessas sensações, que me pegam sempre desprevenida e viajo no tempo, instigando minhas lembranças e saudades. Não é uma dor, é acima de tudo um sentimento bom, de que minha memória olfativa sobrevive a despeito do tempo e da distância.
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