quarta-feira, 24 de setembro de 2008

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Frio primaveril


Não sabia exatamente quem havia lhe enganado,
Se o inverno que anunciou sua partida
Ou a primavera que prenunciou sua chegada
Os jacarandás enfeitaram-se multicoloridos e exalaram seu perfume
Os pássaros surgiram apresentando seu canto, sua sedução,
e a disposição em disseminar mais cores.
Os olhos dela embeberam-se com verde, amarelo e lilás,
Seu corpo se preparou para o sopro tépido
E sentiu um aconchego antecipado.
Havia esgotado o prazer dos vinhos e dos lugares fechados,
Ansiava pela vida, livre das quatro paredes.
Foi dormir com a grata sensação que o sol iria brilhar com maior freqüência.
Acordou, abriu a janela, um vento gelado queimou-lhe o rosto,
Os pássaros quietaram e só sobraram as teimosas flores dos jacarandás.
Acolheu nela as dores de todos os sujeitos traídos pelo falso anúncio
e, esgotada do inverno, que insistia em retornar,
fechou a janela, vedou as frestas impedindo o frio de se instalar no coração.
Como de hábito, empilhou uma sobre a outra - junto com as cobertas - as expectativas, aguardando o novo florescer.


***

Sopro de Ben Harper - Morning Yearning