quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Enchente

Salto de Corumbá - GO

Nadava meio desajeitada, braços e pernas sem sincronia. Vez por outra deixava-se flutuar, assim descansava e, sofregamente puxava o ar, lábios cianóticos aspiravam em busca de oxigênio. Os olhos fechavam e abriam em desespero, tentando enxergar a margem oposta.

Inútil.

Sentia a correnteza carregando-a cada vez mais para adiante. Seguindo o curso não chegaria ao outro lado, talvez despencasse num salto que desvendaria um volume ainda maior de água, que por fim a levaria ao mar.

Ao lado dela um galho de árvore seguia sem resistência. Pequenos olhos se esticaram próximo dali e a cobra d’água pareceu desdenhar da sorte daquele ser que se debatia. De verdade não sabia se queria resistir à força que a levava cada vez mais distante do seu destino. Mesmo porque esse destino fazia questão de ignorá-la e se ignorava não existia. E não existindo, suas palavras não ressoariam e sua sede não seria saciada. Foi sendo levada por mais alguns metros até que retornou ao nado torto, buscando o improvável destino.