domingo, 15 de março de 2009

domingo, 15 de março de 2009

Música e História

Peguei no mesmo endereço indicado abaixo

Dezembro. Final de ano é sempre muito corrido. Mil coisas para deixar em dia, no trabalho na vida pessoal, para então aproveitar uns dias ao lado da família. Mas antes disso, muita água rola por baixo da ponte. A vida é uma gangorra ou uma roda gigante ou uma montanha russa. Um dia tranqüilo e outros cheios de grandes emoções. Se fosse diferente, creio que acharíamos muito chato. Mas tem coisas que podíamos perfeitamente passar sem.

Eu correndo de um lugar para outro para resolver problemas de trabalho. Chove em Porto Alegre, horário do almoço. E já que não vai dar tempo de almoçar, aguardo um pouco para ver se a chuva diminui. Olhei pro lado e vi que estava acontecendo uma exposição, no hall de entrada do cinema universitário. Cartaz enorme, com uma foto antiga do Rio de Janeiro e o rosto de um homem, que me chamou a atenção e atravessei para olhar.

O homenageado: João Cândido, o Almirante Negro. Pensei: quem deve ser? Nunca tinha ouvido falar. E comecei a ler a história desse homem, cuja luta eu não aprendi na escola. João Cândido, marinheiro gaúcho, nascido em 24 de janeiro de 1880 morreu aos 89 anos.

No início do século XX, ano de 1910, durante alguns dias, mais de dois mil marujos movimentaram a Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro, ao tomarem posse de navios de guerra para exigir o fim dos castigos corporais na Marinha do Brasil.

Em abril de 1910, o navio blindado “Minas Gerais” chegou à Baia da Guanabara, era o navio mais bem equipado do mundo, mas, as questões de regime de trabalho, o recrutamento dos marujos, as normas disciplinares e a alimentação deixavam a desejar. O retardamento das reformas nessas áreas fazia lembrar os anos dos navios negreiros. Tudo na Marinha, Código Disciplinar e recrutamento, principalmente, ainda eram iguais ao da monarquia. Homens de bem, criminosos, marginais eram juntamente recrutados para servirem obrigatoriamente durante 10 a 15 anos e, a desobediência ao regulamento tinha a punição de chibatadas e outros castigos.

Mas, em 16 de novembro de 1889, Deodoro da Fonseca, através do Decreto nº 3 – um dia depois da Proclamação da República – acabou com os castigos corporais na Marinha do Brasil mas, um ano depois tornou a legalizá-los: “Para as faltas leves, prisão e ferro na solitária, a pão e água; faltas leves repetidas, idem idem por seis dias; faltas graves 25 chibatadas”.

Os marujos não aceitaram e começaram a conspirar, principalmente alguns que estiveram na Inglaterra e viram a diferença de tratamento dos que lá eram recrutados. Em 22 de novembro de 1910, comandado por João Cândido Felisberto, a Revolta da Chibata eclodiu. João Cândido assumiu a esquadra de “Minas Gerais”. No combate morreram o Comandante Batista das Neves, alguns oficiais e muitos marinheiros.

Como não tinha outro jeito a dar – eram 2.379 rebeldes – e estavam com as mais modernas armas que existiam na época, o Marechal Hermes da Costa e o parlamento cederam às exigências, aprovaram um projeto idealizado por Rui Barbosa – que tinha apoiado o retorno dos castigos anteriormente – pondo fim aos castigos e concedendo anistia aos revoltosos. [ Tirei esse texto daqui ].

Ao ler a história do Almirante Negro, também descobri que este foi homenageado na música de Aldir Blanc e João Bosco – Mestre Sala dos Mares. Sempre gostei das músicas cantadas pelo João Bosco, mas não sabia que essa música era uma homenagem a esse personagem da história do Brasil. Pode até ser que eu esteja enganada, mas creio que recordaria se tivesse estudado sobre ele...mesmo que tenha sido há um bom tempo atrás...

Após outro levante na Marinha, ele foi expulso, banido da corporação, mesmo não tendo participado. Viveu precariamente, trabalhando de estivador e descarregando peixe na praça XV no Rio de Janeiro.

O presidente Luis Inácio Lula da Silva assinou em 23 de julho de 2008 uma Lei concedendo anistia póstuma a João Cândido Felisberto. Uma homenagem tardia, mas necessária a um homem que lutou, não por interesse próprio, mas por uma causa justa para muitos.

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A música Mestre Sala dos Mares - Aldir Blac e João Bosco - com Elis