sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Clarice Lispector – novamente e em aniversário!

Essa é minha!

Eu ando com preguiça da internet. Apesar disso tenho pensado no que postar e lembrei que já tem um tempinho que não menciono Clarice. Mas também queria publicar umas fotos novas, que fiz agora no período das festas, só não tenho tido a minha “energia de ativação” necessária para isso.

Mas uma boa surpresa foi descobrir que, hoje, é aniversário da Neiva - Blog A Itinerante - e como ela também gosta dos escritos da Clarice, resolvi deixar a preguiça de lado.

A Neiva frequenta o Sopros desde muito cedo, visto que eu o assumi, de fato, em agosto de 2008. Foi uma das primeiras a chegar e ficar. Lisonjeou-me e envaideceu-me com sua gentileza e simpatia. Ela sabe como cultivar amigos, seu blog tem sempre pessoas novas e seus posts são de muito bom gosto, recheado de assuntos culturais, além dos maravilhosos “banner’s itinerantes”, que já são sua marca registrada.

Escolhi um trecho de um livro da Clarice que adoro. Vocês dirão que é uma bobagem eu dizer isto, pois na real, adoro tudo que ela escreveu. Mas Água Viva - o livro ao qual me refiro - tem um significado especial para mim..

Chega de conversa!

Neiva: Feliz Aniversário, Saúde, Paz, Alegrias e muito amor nesse novo ano que inicia hoje. Fiquei muito feliz por te conhecer. Espero que goste do texto escolhido.

***

Sopro de Clarice Lispector – trechos de Água Viva

...

Nova era, esta minha, e ela me anuncia para já. Tenho coragem? Por enquanto estou tendo: porque venho do sofrido longe, venho do inferno de amor, mas agora estou livre de ti. Venho do longe – de uma pesada ancestralidade. Eu que venho da dor de viver. E não a quero mais. Quero a vibração do alegre. Quero a isenção de Mozart. Mas quero também a inconseqüência. Liberdade? É o meu último refúgio, forcei-me à liberdade e agüento-a não como um dom, mas com heroísmo: sou heroicamente livre. E quero o fluxo.

Não é confortável o que te escrevo. Não faço confidências. Antes me metalizo. E não te sou e me sou confortável; minha palavra estala no espaço do dia...

...

Neste instante-já estou envolvida por um vagueante desejo difuso de maravilhamento e milhares de reflexos do sol na água que corre da bica na relva de um jardim todo maduro de perfumes, jardim e sombras que invento já e agora e que são o meio concreto de falar neste meu instante de vida. Meu estado é o de jardim com água correndo. Descrevendo-o tento misturar palavras para que o tempo se faça. O que te digo deve ser lido rapidamente como quando se olha.

...

Para me refazer e te refazer volto a meu estado de jardim e sombra, fresca realidade, mal existo e se existo é com delicado cuidado. Em redor da sombra faz calor de suor abundante. Estou viva. Mas sinto que ainda não alcancei os limites, fronteiras com o quê? Sem fronteiras, a aventura da liberdade perigosa. Mas arrisco, vivo arriscando. Estou cheia de acácias balançando amarelas, e um senso de tragédia, adivinhando para que oceano perdido vão os meus passos de vida. E doidamente me apodero dos desvãos de mim, meus desvarios me sufocam de tanta beleza. Eu sou antes, eu sou quase, eu sou nunca. E tudo isso ganhei ao deixar de te amar.

...

***

Um trechinho do prefácio do livro, para quem não o conhece – de repente dá vontade de ler todo: [...A trama do livro é tênue, o que faz dele “um romance sem romance”. Um eu, declinado feminino, escreve a um tu, no masculino, expondo suas ânsias e procuras, num discurso de fluidez ininterrupta entre o delírio, a confissão e a sedução...Profa. Lúcia Helena, UFF]