quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Equilíbrio


Buscava o equilíbrio, toda sua energia era despendida com o intuito de equilibrar-se vida à fora.
Tinha descoberto muito tempo atrás que sua tarefa não seria das mais fáceis. Vivia se desprendendo, se despregando do rumo, afinal havia uma gama imensa de facilidades para perder o rumo, ultrapassar a linha tênue da lucidez.

Longe de desistir, alternava momentos de doce harmonia com tudo e todos ao redor, e outros em que a solidão lhe era a melhor companhia. Certo que muitas vezes lhe doía a alma, com sua tristeza ancestral, pois isso tinha vindo no seu sangue e não havia libertação possível. E nesses momentos era como se essa alma lhe dissesse: Quanta estupidez, quem pensa que é para imaginar que pode viver sem mim?

Passava por esses momentos como se fosse uma provação, que necessitava passar. Mas era forte e teimosa, absorvia a dor, conversava com a alma e lhe dizia que sim, compreendia a importância dela em sua existência, mas não esmoreceria, não perderia a lucidez.
No seu íntimo sabia: além daqueles dias de solidão e dor, haveria dias de contemplação do belo, em forma de poesia, de música, de cores, de amor...o amor, tão i(nt)menso que transbordava dela para a humanidade e talvez por isso aqueles momentos de pouca lucidez. Amava e continuaria amando. Contraditoriamente, esse era também, o seu ponto de equilíbrio. Não havia força que lhe tirasse do prumo, ia buscando os momentos de felicidade, onde menos podia imaginar que existissem. E seguia e andava na linha do trem, na corda bamba, balançando e retornando ao eixo. Pois que, queria era vida e a vida permitia tudo, até flertar com a loucura...

***

...Será preciso coragem para dizer o que vou fazer: dizer. E me arriscar à enorme surpresa que sentirei com a pobreza da coisa dita. Mal a direi, e terei que acrescentar: não é isso, não é isso! Mas é preciso também não ter medo do ridículo, eu sempre preferi o menos ao mais por medo também do ridículo: é que há também o dilaceramento do pudor. Adio a hora de me falar. Por medo?... (trecho do livro Paixão segundo G.H. - Clarice Lispector)