quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Noite Urbana

Foto minha

Olhava o mundo por aquela janela. Dali já viajara para muitos cantos do mundo, só percebendo a forma dos prédios, janelas vizinhas, passantes, automóveis. Sua imaginação corria livre ao olhar as luzes da cidade.

Paisagem estéril, diriam alguns, mas para ela tudo ali tinha vida. A cortina do vizinho do prédio da esquerda, o grafite no muro do estacionamento mais lá adiante, a árvore que parecia morta no inverno e renascia na primavera.

Daquela janela, já encontrara seu amor, que passava por ali distraído, numa noite fria e que por algum motivo olhou para cima, e a viu, e sorriu. Seguiu com o olhar enquanto ele entrava três prédios adiante do seu. Noutro dia o encontrou na rua muito cedo e ele lhe deu bom dia, com o sorriso mais encantador que ela jamais imaginara existir. Não mais o encontrou, mas esperava todas as noites, na mesma hora, que ele surgisse na esquina e olhasse para a sua janela.

Dali, conversava com a lua cheia em noites de céu claro e sentia como se o brilho fosse exclusivamente para ela. Mas sabia que em algum canto, por trás de tantas janelas, havia casais se amando, estimulados por essa mesma lua. Sentia um calor e quase um aconchego saber disso.

A sua janela enquadrava uma pintura, uma pintura urbana. Pintura impregnada de vida, de encontros, de desencontros, de sentimentos, de desilusões, de cheiros, de cores, de alegrias - como daquela vez que assistiu a senhora de sessenta anos, que morava sozinha, no prédio bem em frente ao seu, receber a visita dos netinhos - de tristezas, de frustrações, de celebração.

Gostava de sonhar ali e quem olhasse de frente, veria um quadro, com uma moça pintada em tons pastel, com o olhar sonhador, como quem aguarda talvez um amor, talvez a felicidade, talvez não, talvez somente admirando a noite urbana.

Com todos esses pensamentos, o rapaz que morava no prédio da outra rua e que enxergava a moça na janela, fechou a cortina e foi deitar-se, talvez para também sonhar. Ou talvez imaginar um conto de solidão na noite urbana.