quinta-feira, 28 de agosto de 2008

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Paisagem através da janela

Ou ainda: Sonho emoldurado pela janela
Saiu cedo do trabalho. Havia combinado com os colegas que adiantaria o serviço no horário do almoço. Com uma hora mais cedo tinha a possibilidade de pegar o ônibus com assentos vazios. Na longa viagem até em casa poderia sentar-se, apreciar a paisagem e divagar. Era final de agosto e o inverno começava a ceder lugar à primavera.

Os ipês coloridos começavam a florir e proporcionava uma visão alentadora. Foram tantos dias de chuva, que continuamente imaginava que os dias nublados não teriam mais fim. As horas da estação fria e chuvosa haviam passado sem grandes emoções até agora e muito lentamente. Gostaria de encontrar um novo prazer, uma motivação para a vida insípida que vinha levando. O sol estava descendo vagarosamente e tingia a cidade com cores amenas. Os poucos pedestres que retornavam ao lar, o faziam de modo lento, como que cansados, mas sem a pressa habitual do rush e mesmos os automóveis mantinham a calma, mesmo que aparente.

Mulheres e homens com roupas em tons mais coloridos que a escala de cinza e preto que dominava o panorama de inverno. Sentia um apego morno pelas pessoas e pela cidade. Aquele cenário urbano conhecido e corriqueiro, mas tão estimado, ganhava nova dimensão, agora a cidade lhe parecia delicadíssima e formidável. As flores em tons de roxo e amarelo arrematavam o espetáculo, para sua dissimulada alegria. Seu amor pela humanidade reacendia e agora rolavam tímidas lágrimas de felicidade, emocionava-se com esse quadro pintado na mente. Sua mente alucinada. Acreditava que nada podia ser ruim, que as dores e os problemas se esvaneceriam se continuasse seu sonho. E apesar disso, podia enxergar seus amigos rindo de suas sensações - se conseguisse um ouvinte para descrever a experiência.

Ela ainda nem avistara as casinhas da periferia onde os moradores enfileiravam as cadeiras para o bate papo da tarde. Mais um pouco e sentiria o aroma de café fresco e dos pãezinhos recém saídos do forno. Ao menos hoje, gostaria de ser recebida com palavras de carinho. E que seu amor lhe recebesse com juras de aconchego. O ônibus virou à esquerda, vislumbrou a rua larga com as casinhas coloridas. Chegara! Seu sensor interno alertou o momento da descida e do despertar. Prometeu para si que aproveitaria melhor a primavera deste ano e sentiria novamente esse prazer infantil.
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Sopro através da janela