sexta-feira, 7 de novembro de 2008

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Carrossel das estações-emoções

O Carrossel - Mark Gertler (1916)


Primeiro o inverno e a primavera se misturam e depois primavera e verão se confundem. As estações movimentam-se, alternam-se, como naqueles carrosséis dos parques de diversão – girando, girando – [pensando bem, isso pode provocar vertigem].

Mas o início do calor leva as pessoas aos parques e nessa época tudo fica irremediavelmente colorido: árvores florescem, as roupas, as frutas... Todos com a intenção de arejar o corpo e a mente que viveu enclausurada no inverno.

O inverno tem seus sabores especiais, mas é introspectivo. E mesmo o mais dedicado amante da estação se regozija com os primeiros calores. Lógico que passado algum tempo, “estamos todos saudosos do aconchego proporcionado pelo frio. Mas reclamar do tempo é um hábito incurável: os vizinhos que se encontram no elevador, falta de assunto? que frio né?, que calorão é esse?! O cumprimento de amigos que encontram-se ocasionalmente [ou mesmo rotineiramente]: e esse frio, hein?, nossa, que bafo! [tempo abafado]. E os dias passam e as estações se movimentam, independente da vontade de todos.

ora quem é que não sabe/ o que é se sentir sozinho/ mais sozinho que um elevador vazio/ achando a vida tão chata do que um cantor de soul... (Zeca Baleiro)

O horário de verão também gera polêmica e assunto para os quatro meses, sempre tem alguém para reclamar. Mas é um espetáculo sair do trabalho com o sol alto e poder ir caminhar num parque e ver a vida durante o dia, que geralmente não ocorre nas outras estações do ano.

Ao observar as pessoas no parque numa tarde/noite de verão, é possível divagar sobre uma quantidade de coisas. Aquele casal conversando no banco, ele eloqüente, ela mirando seus olhos com ar apaixonado; o casal mais maduro, vestidos elegantemente – um casal de executivos, advogados? Saindo do bar à beira do lago, indo em direção ao carro – quem sabe um caso de amor proibido?... As moças magricelas, suando a camiseta com intuito de serem ainda mais magrelas; as cheinhas – sonhando com um corpo magrelo; as gordinhas, os gordinhos, todos quem sabe tentando entrar em forma para conquistar um novo amor ou simplesmente o amor. Quem sabe sonhando em chegar ao próximo inverno com um par? Idosos que caminham em sua marcha lenta, mas firme, sem a ansiedade dos mais jovens, almejando aproveitar os sabores de um outro inverno. O pai que joga futebol com o filho na grama do parque, aproveitando a possibilidade desse encontro à luz de do sol...

...não quero ser triste como o poeta que envelhece lendo Maiakóvski na loja de conveniência, não quero ser alegre como o cão que sai a passear com seu dono alegre sob o sol de domingo... (Zeca Baleiro)

As estações se movimentam, a roda do tempo gira e em cada pessoa uma história, uma expectativa... Nós até podemos parar, mas certamente não porque o mundo parou... Tem uma porção de gente com esperanças renovadas para a nova estação.

...não quero ser estanque como quem constrói estradas e não anda, quero no escuro, como um cego, tatear estrelas distraídas...(Zeca Baleiro)

Sopro de Pablo Neruda [Se cada dia cai]

Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.
há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.